Para mais escolarizados, junho de 2013 não reduziu corrupção
Foto: Edilson Dantas
Aos poucos, o combate à corrupção tornou-se uma das principais bandeiras dos manifestantes de 2013. Dez anos depois, no entanto, 40% dos eleitores avaliam que aqueles episódios não ajudaram a diminuir essa prática na política brasileira. Os dados inéditos fazem parte da pesquisa Ipec/O GLOBO.
Entre os 2 mil entrevistados, 35% avaliam que as manifestações que abalaram o país em 2013 contribuíram para diminuir a corrupção no país. Outros 40% discordam em algum grau da afirmação, e 11% nem concordam, nem discordam. Os que não souberam responder são 16%.
Quem hoje avalia o governo federal como ruim ou péssimo — sentimento também investigado pelo Ipec —, o pessimismo com corrupção é também maior: 32%, contra 25% entre quem avalia a gestão de Lula como ótima ou boa.
Governos passados de esquerda e direita tiveram administrações marcadas por corrupção. Enquanto o mensalão e os desvios na Petrobras afetaram os governos petistas, Bolsonaro teve denúncias no orçamento secreto e de propina na compra de vacinas na pandemia e no Ministério da Educação, e hoje é investigado por tentar se apropriar ilegalmente de joias sauditas avaliadas em R$ 5,1 milhões.
Para Leonardo Avritzer, professor titular do departamento de Ciência Política da UFMG, Junho de 2013 ajudou a colocar o tema do combate à corrupção na agenda política, pauta que dificilmente era listada como prioridade em pesquisas de opinião na década anterior. Ele define a Operação Lava-Jato como “o grande paradoxo brasileiro”, por ter sido a investigação mais proposta a combater a corrupção e, mesmo assim, se tornado “inviesada e politizada”, o que acabou não contribuído para resultados práticos.
— Não é surpresa que lulistas e bolsonaristas concordem, porque hoje as ações anticorrupção incidem sobre ambos os lados do espectro político. No entanto, aqueles que discordam estão mais certos, porque o Brasil não tem hoje uma instituição despolitizada de combate à corrupção — afirma Avritzer.
Daniel de Mendonça, professor do Instituto de Filosofia, Sociologia e Política da Universidade Federal de Pelotas UFPel), diz que não se pode confundir a decepção da população sobre o combate à corrupção com o fenômeno em si, o que torna a medição desse sentimento algo “delicado”. Para ele, a diferença de percepção sobre o assunto entre eleitores de Lula e Bolsonaro e quem anulou o voto tem a ver com o perfil do eleitor.
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— Certamente o eleitorado que votou branco e nulo e se sente menos confiante com a redução da corrupção depois de Junho de 2013 é um típico eleitor que não acredita na política. Ele é descrente, capitulou a qualquer tipo de esperança de que a política possa mudar sua vida. Tem um grau de pessimismo muito evidente — afirma Mendonça.
Há mais homens que mulheres concordando que houve alguma melhora no combate à corrupção, 40% contra 30%. No recorte por escolaridade, pessoas com ensino fundamental completo também são mais crentes nessa afirmação. Se 38% concordam parcial ou totalmente que a corrupção diminuiu após as manifestações de 2013, a taxa é de 25% entre quem tem ensino superior. Por outro lado, 49% dos respondentes mais escolarizados dizem que discordam da afirmação, enquanto os menos escolarizados somam 25%.
Moradores do Nordeste e do Sul se contrapõem no assunto. Entre nordestinos, 46% concordam total ou parcialmente que houve queda na corrupção — a taxa é de 30% entre sulistas.
O sentimento positivo em relação ao tema é mais popular no interior, onde 37% veem melhora na corrupção — contra 31% nas capitais. Já nessas grandes cidades 45% discordam parcial ou totalmente que Junho de 2013 deixou o país menos corrupto, enquanto o índice é de 36% no interior.
No recorte por tamanho das cidades em termos populacionais é possível notar a queda do otimismo com a corrupção de acordo com o porte do município. Em cidades de até 50 mil habitantes, 38% veem melhora na corrupção, taxa que cai para 30% nos municípios com mais de 500 mil habitantes.
A condição socioeconômica influencia no sentimento da população sobre o tema. Entre pessoas com renda familiar superior a cinco salários mínimos, 49% acham que a corrupção não melhorou. Já entre aqueles respondentes com renda familiar de até um salário, o índice é de 33%.
A pesquisa do Ipec foi feita com 2 mil respondentes, em 127 municípios, entre 1º e 5 de junho. A margem de erro máxima estimada é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.