Procurador que desmontou Bolsonaro no TSE pode virar PGR
Foto: TSE/Divulgação
Enquanto a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) tenta uma brecha na agenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para apresentar a lista tríplice da sucessão na Procuradoria-Geral da República (PGR), o petista segue firme em nomear alguém que corra por fora. Hoje, o nome mais cotado é o do atual vice-procurador-geral eleitoral, Paulo Gonet – o preferido dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes.
Gonet ganhou força após seu parecer contundente pela inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro. Na semana passada, na primeira sessão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) dedicada ao tema, ele disse que a reunião do então presidente com embaixadores estrangeiros, durante a qual foram proferidos ataques ao sistema eleitoral, foi uma “manobra eleitoreira”, a caracterizar abuso de poder e uso indevido dos meios de comunicação. Se a sua posição prevalecer, Bolsonaro não poderá se candidatar em eleições até 2030.
Embora cientes de que Lula não pretende seguir a lista tríplice, como já declarou publicamente, a ANPR foi adiante com a votação interna e elegeu os subprocuradores da República Luiza Frischeisen, Mario Bonsaglia e José Adonis. Em nota, o presidente da entidade, Ubiratan Cazetta, disse que já solicitou audiência com o presidente para entregar-lhe o documento e “contribuir para o processo de escolha do procurador-geral da República”.
Porém, ainda não há data definida para a reunião, nem sinalização de que Lula de fato vá receber o representante da ANPR. Apesar de ter sido o petista quem iniciou, em 2003, o costume de indicar alguém da lista, ele acabou mudando de opinião a esse respeito, especialmente depois de ficar 580 dias preso ilegalmente, como já reconheceu o STF. A avaliação é de que o Ministério Público Federal (MPF) se omitiu quanto aos métodos irregulares da Operação Lava-Jato.
Como a lista traz nomes alinhados ao ex-procurador-geral Rodrigo Janot, responsável por grande parte das denúncias daquela época, isso desagrada o Palácio do Planalto. O entorno de Lula tem reforçado com o presidente a necessidade de nomear para a PGR alguém de perfil mais garantista.
A diretoria da ANPR diz que a lista está “longe de ser corporativa” e “traz a vantagem da transparência em sua formulação”.
O atual procurador-geral, Augusto Aras, foi o primeiro a ser nomeado fora da lista desde a tradição inaugurada por Lula. Na ocasião, Bolsonaro chegou a receber o documento, mas optou por ignorá-lo. A interlocutores, Aras tem dito que gostaria da recondução, mas sabe que tem pouca chance – do ponto de vista do Palácio do Planalto, preocupa seu vínculo com o governo anterior.
O procurador-geral também tenta emplacar um sucessor de sua preferência, como Humberto Jacques ou Carlos Frederico Santos, que conduz as apurações sobre os atos de 8 de janeiro.
Outro nome que não compõe a lista mas tem apoio do PT é o do subprocurador Antônio Carlos Bigonha – um dos únicos do MPF a criticar a Lava-Jato. Ele já afirmou que o órgão virou uma “polícia com poderes superlativos”, realizando “operações persecutórias” que culminaram na “prisão arbitrária” de Lula.