Temendo derrota de Bolsonaro, desmatadores bombaram destruição da Amazônia

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Foto: Carl de Souza/AFP

Temendo a derrota de Bolsonaro e, com ela, a retomada de punições a quem desmata, houve um salto no ritmo da destruição do meio ambiente. O desmatamento no Brasil cresceu 22,3% em 2022 em relação a 2021, segundo o relatório anual do MapBiomas divulgado nesta segunda (12). Isso significa que o país perdeu o equivalente a 230 campos de futebol por hora. Em 2019, primeiro ano da gestão de Jair, foram 1,22 milhão de hectares desmatados, em 2020, 1,65 milhão, em 2021, 1,68 milhão. Já no ano eleitoral de 2022, 2,06 milhões.

A agropecuária foi responsável por 95% do desmatamento, que se concentrou na Amazônia (58%) e no Cerrado (32,1%). O desmatamento ilegal não começou e não terminou com Jair Bolsonaro, mas o então presidente o transformou em um símbolo de seu governo a ponto de ser lembrado no exterior como um pária climático global e um carrasco das gerações futuras. Em nome da floresta no chão, atacou a fiscalização, passou pano para criminosos e financiou desmatadores. Como alertei aqui no final de 2021, temendo a derrota daquele que os ajudou, madeireiros e garimpeiros ilegais, grileiros de terra e o naco de produtores rurais que agem ao arrepio da lei correram para colocar o máximo de floresta no chão este ano. Sabiam que qualquer outro que assumisse a Presidência da República em 2023 não daria a mesma vida fácil. Precisavam fazer tudo o que pudessem naquele momento em que a situação era totalmente favorável a eles. Digo totalmente porque a força ostentada por esse grupo no Congresso Nacional (que dificultou a punição a desmatadores com a retirada do Cadastro Ambiental Rural (CAR) do Ministério do Meio Ambiente e aprovou o PL Antiindígena na Câmara dos Deputados) reduz a margem de manobra do Poder Executivo. Mas a ministra do Meio é Marina Silva (e não alguém acusado de ajudar em esquema ilegal de exportação de madeira da Amazônia), o ministro da Justiça é Flávio Dino (e não alguém que dirige uma pasta que exonera superintendente da Polícia Federal por investigar o tal ministro) e o presidente é Lula (e não alguém que ataca fiscais do Ibama e do ICMBio e cientistas do INPE exatamente por fazerem o seu dever). Então, o contexto mudou Tanto que os alertas de desmatamento na Amazônia caíram 31% nos cinco primeiros meses de 2023 em comparação a 2022, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Contando com as anistias que o Congresso Nacional aprova a desmatadores e grileiros de tempos em tempos, o bolsonarismo rural apostou na política de terra arrasada e de fato consumado. A alta no desmatamento no Brasil nos últimos anos não foi um acidente, mas um projeto. Se o país quisesse realmente ter feito a diferença nessa área saberia por onde ir porque já havia feito em outras administrações. Prova desse projeto foi a proposta do então ministro Ricardo Salles de aproveitar a pandemia, enquanto imprensa e sociedade estão preocupadas com mortos e doentes, para “passar a boiada” contra normas ambientais. Agora, com o retorno à normalidade democrática, os índices de desmatamento vêm caindo por conta da atuação das instituições públicas. E, sentindo que a vida ficou mais difícil para seus representados se beneficiam da ilegalidade, há deputados e senadores que pressionam para manter o retrocesso. Conversei com fiscais do Ibama que atuam no Cerrado que disseram que o comportamento de muitos produtores que atuam ilegalmente continua o mesmo do ano passado. Em sua avaliação, isso não é apenas para peitar o novo governo, mas também testar até onde a gestão petista topa ir na repressão considerando que Lula precisa de governabilidade. O PT terá sua parcela de culpa socioambiental, como teve com o desastre que foi a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, se não entregar o que prometeu. Mas, por enquanto, o novo governo ainda está revirando os escombros deixados por Bolsonaro, ressuscitando o sistema de proteção ambiental e buscando formas de evitar que uma carreta desgovernada caia no precipício na próxima curva. Quanto tempo até a próxima proposta de anistia ser aprovada no Congresso para legalizar a política de terra arrasada dos últimos quatro anos?

Uol