Bolsonarista do BC pode fazer redução insignificante da Selic

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Foto: Raphael Ribeiro/BCB

Na mais importante reunião dos últimos anos, o Comitê de Política Econômica do Banco Central (Copom) inicia na quarta-feira, dia 2, o ciclo de corte de juros reclamado pelo presidente Lula da Silva desde a sua posse. Será ainda o primeiro Copom com a participação de dois diretores indicados por Lula e o primeiro encontro do presidente Roberto Campos Neto com o novo diretor Gabriel Galípolo, duas semanas depois das suas desavenças sobre declarações públicas. Há divisão no comitê sobre (1) o tamanho deste primeiro corte, (2) o ritmo dos próximos e (3) o ponto final do ciclo de redução dos juros. Na sexta-feira, 55% das apostas do mercado eram de uma redução de 0,5 ponto percentual e 45% em 0,25 pp. O Boletim Focus desta segunda, 31, mostrou um consenso no mercado de que os juros vão cair a 12% no fim do ano – uma redução de 1,75 ponto percental somando as reuniões do Copom desta semana, 20 de setembro, 1 novembro e 13 de dezembro. Se o Copom de quarta-feira decidir por um corte de 0,25 pp é certo como dois e dois são quatro que o presidente Lula da Silva não estará sozinho no tom virulento nos ataques a Campos Neto. O presidente do BC perdeu a boa vontade no Senado. A divulgação do comunicado do BC, aliás, pode atrasar. Em função do jogo do Brasil contra a Jamaica pela Copa do Mundo de futebol feminino, que começa às 7h pelo horário de Brasília, a reunião de quarta-feira deve iniciar às 11h e não às 10h, como de costume. Há a expectativa que dois diretores indicados por Lula, Galípolo e Ailton Aquino, votem por um corte maior, com os diretores mais conservadores Diogo Guillen, Fernanda Guardado e Renato Dias de Brito Gomes indo para outra ponta. Será interessante ver o efeito dos diretores de Lula nos textos oficiais. O comunicado de quarta-feira à noite será decisivo para modular as expectativas sobre a nova dinâmica do comitê. Mais relevante que o índice é o ritmo dos cortes. Os diretores mais hawkish recordam da tática usada pelo Copom de Ilan Goldfajn em 2016, que iniciou com dois cortes residuais de 0,25 pp para então subir a reduções sucessivas de 0,75 pp. A taxa caiu de 14,25% em outubro de 2016 para 6,5% em maio de 2018. Outros argumentam que a situação é diferente, com o Brasil de 2023 em uma queda de atividade. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) de maio caiu 2%, na comparação dessazonalizada com abril, enquanto o Monitor do PIB, da FGV, apontou retração de 3%. O saldo do Caged de junho, 157 mil empregos formais, é baixo para o mês. No primeiro semestre, o saldo foi de 1.023.540 empregos formais, o pior desempenho desde a pandemia de 2020. Há um consenso nas projeções de que o desaquecimento vai se agravar no fim ano. Algumas corretoras trabalham com crescimento zero ou perto disso no último trimestre. Neste cenário, a pressão sobre uma queda mais brusca da Selic será intensificada. Depois de sete meses da gestão moderada de Fernando Haddad, Campos Neto não conta com a mesma rede de proteção no Congresso do início do ano. Um sintoma foi o pedido do Ministério Público do Tribunal de Contas da União de pedir investigação contra Campos Neto sobre uma declaração sua sobre a possível contratação de uma gestora de recursos para tocar as reservas internacionais. O pedido vai dar em nada, mas indica o grau de animosidade contra o presidente do BC num órgão controlado pelo Senado.

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