Bolsonaristas de 8/1 usavam até estilingues

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Foto: TON MOLINA / AFP

Uma série de documentos enviados pela Polícia Civil do Distrito Federal reforça a tese de que vários manifestantes participaram dos atos golpistas radicalizados por um processo de desinformação e, em muitos casos, financiados por terceiros e preparados para um eventual confronto, mesmo que com estilingues.

Os depoimentos fazem parte de inquéritos abertos após prisões realizadas durante as manifestações. Em um deles, dois manifestantes contam que vieram do Pará, mas que estavam em Brasília graças ao financiamento de fazendeiros de Água Azul do Norte. A cidade é um dos centros de garimpo do estado.

Um dos presos, Janailson Silva, disse que estava em Brasília desde novembro, junto com outras pessoas de sua cidade. Segundo ele, estavam acampados no Quartel-Generald o Exército desde então e que eram abastecidos por fazendeiros de Água Azul do Norte.

“Quando a comida acaba, os fazendeiros mandam um pix para Adeilton (nome de outro preso), o qual providencia a compra dos mantimentos”, afirmou Janailson.

Estilingue apreendido com um dos manifestantes — Foto: Reprodução

Janailson e Lucivaldo, outro dos manifestantes golpistas vindos do Pará, foram presos com, cada um, estilingues e bolas de gude. Segundo ambos, eles levaram os equipamentos caso fossem atacados pelos “petistas e pelos vermelhos”.

André Vilela, outro dos manifestantes presos, levou um cassetete feito de galho de árvore, um estilingue e bolas de gude. Além disso, contou aos policiais que também tinha uma máscara anti-gás feita de garrafa PET. Assim como os manifestantes paraenses, ele disse que planejava usar o equipamento contra os “esquerdistas, que são os mais perigosos”.

Gabriel Pereira, de Minas Gerais, também contou que “ganhou a passagem”. Segundo ele, estava na manifestação para pedir a decretação de uma Garantia da Lei e da Ordem e uma “limpeza geral nos três Poderes”, com a retirada de “Lula, Alckmin, Alexandre de Moraes e da cúpula do PT”. Outro manifestante, também preso durante a manifestação, contou que vendia picolés no acampamento em Salvador, na Bahia, e que foi para Brasília participar da manifestação porque no local era oferecido R$ 400 para quem fosse.

Um dos presos também conta que estava lá motivado por uma suposta lei que proibia que se “falasse mal de ministros e governantes”. Assim como outros manifestantes, Jairo Costa também levou um estilingue para “se defender dos esquerdistas”. O preso também levava um facão no momento de sua prisão.

Entre os depoimentos consta até mesmo o de um preso que, segundo ele, chegou a Brasília fugindo de uma facção criminosa em seu estado natal. Segundo ele, vindo de Pernambuco porque estava sendo perseguido pela acusação de fazer parte de um bando rival, estava em Brasília em situação de rua. Apesar disso, foi até a Esplanada dos Ministérios e foi um dos que invadiram o Congresso Nacional.

Segundo ele, após ver um vigilante sendo agredido, decidiu ir para um local seguro, mas outros manifestantes pediram para que ele retornasse, quando começou a ser chamado de “petista e vagabundo”. Segundo ele, ao pular a barreira de proteção se deparou com outros policiais e terminou como um dos presos na manifestação.

O Globo