Braga Netto não quer disputar prefeitura carioca
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Ministro no governo Jair Bolsonaro e candidato a vice na chapa do ex-presidente no ano passado, o general Walter Braga Netto virou a principal aposta do PL para a Prefeitura do Rio depois que Flávio Bolsonaro foi vetado pelo pai, mas tem se revelado um novo problema para o partido. A intenção da sigla esbarra no interesse do militar em concorrer ao Senado por Minas Gerais em 2026. Na prática, a relutância de Braga Netto impõe um desafio à direita no berço político do ex-presidente. Diante da dificuldade interna do PL, outros partidos tentam construir candidaturas bolsonaristas. O PL vê no militar atributos para disputar o comando do município contra o atual prefeito, Eduardo Paes (PSD). A imagem de general, avaliam entusiastas da candidatura, ajudaria a impor o discurso de “ordem”, apesar de as forças policiais serem de alçada estadual. Em 2018, o militar foi interventor na Segurança Pública fluminense, medida decretada pelo governo do ex-presidente Michel Temer (MDB). Durante sua gestão, ocorreu o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, crime não esclarecido até hoje. Atualmente, o domicílio eleitoral de Braga Netto é mesmo o Rio. A interlocutores, contudo, o general demonstra mais interesse na empreitada mineira daqui a três anos. Além de declarações públicas do presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, o general tem sido estimulado por aliados – incluindo amigos das Forças Armadas – a topar a missão carioca. Segundo integrantes do partido, ele ainda desconversa e cita o Senado, mas nunca declina. No PL, a avaliação é de que o ex-ministro carrega consigo os atributos necessários para mobilizar os bolsonaristas, mas não os pontos fracos da família Bolsonaro – no Rio, os filhos Flávio e Carlos têm contra eles acusações de “rachadinha” em gabinetes no Legislativo. Ciente de que passaria por alto grau de exposição e colheria o ônus de uma derrota, o ex-presidente vetou Flávio. Até há quem acredite que o senador e filho do ex-mandatário possa voltar a aparecer como opção, mas no momento ele segue vetado. Nas primeiras semanas de agosto, o PL começará a produzir pesquisas internas em vários municípios do Rio, mas um levantamento de outro partido obtido pelo Valor traz boas e más notícias para o general. De bom, o fato de ter rejeição baixíssima, de apenas um dígito – o que costuma estar atrelado a um ainda tímido grau de conhecimento de determinado candidato entre a população. De ruim, o dado de que pouco mais da metade dos cariocas descarta votar em alguém apoiado por Bolsonaro. “Há menos de um ano, Bolsonaro ganhou a eleição presidencial na cidade do Rio. Não acreditamos nessa ideia de que vai ser um mau cabo eleitoral”, atenua um aliado. A direita sabe que será uma eleição difícil e que Paes, com a máquina em mãos, é favorito. Por isso, considera positivo algum grau de fragmentação no primeiro turno, que pode dificultar uma vitória do prefeito logo na primeira rodada da disputa. Nesse sentido, uma candidatura do Psol é vista com bons olhos, já que impede a esquerda de se unir em torno do postulante à reeleição – Paes caminha para ter o apoio do PT do presidente Lula. Dentro do PL, o deputado federal Eduardo Pazuello e o senador Carlos Portinho estão entre os quadros que tentam construir candidaturas. Fora, o deputado estadual Rodrigo Amorim (PTB, mas de mudança para o União Brasil) e o federal Otoni de Paula (MDB) buscam se viabilizar. “O importante no momento é ter pré-candidaturas que façam contraponto ideológico ao Eduardo Paes, que hoje representa a esquerda”, alega Amorim. Entre políticos como Amorim, a leitura é de que Paes está hoje à esquerda e, portanto, vale a pena ter uma candidatura mais ideologizada à direita para enfrentá-lo. Já nomes como Portinho entendem que a direita precisa estar mais ao centro para disputar um eleitorado de perfil parecido com o do atual prefeito, além de saber debater detalhadamente aspectos da cidade – uma das principais características de Paes.