Coach bolsonarista deu dinheiro público a empresas-fantasma

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Foto: Reprodução

O autointitulado “coach messiânico” Pablo Marçal se tornou alvo de uma operação da Polícia Federal, nesta quarta-feira, para investigar crimes eleitorais e lavagem de dinheiro após contratar serviços como aluguel de aviões, helicópteros e salas comerciais de empresas das quais faz parte do quadro societário. Um levantamento do GLOBO identificou na prestação de contas do empresário junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pelo menos duas empresas ligadas ao influenciador que receberam dinheiro de sua campanha como prestadoras de serviços. De acordo com dados da Justiça Eleitoral, o influenciador movimentou aproximadamente R$ 400 mil nas operações.

A empresa que mais recebeu recursos foi a Marcal Participacoes LTDA, onde ele aplicou R$ 288 mil de recursos de sua campanha. Ela é uma sociedade em conjunto com sua mulher, Ana Carolina Carvalho. Ao justificar os gastos à Justiça Federal, Marçal alegou ter pago aproximadamente R$ 100 mil pelo aluguel de dois aviões e R$ 72 mil por dois helicópteros. Os demais valores teriam sido usados para locar uma sala e carros.

A outra empresa de Marçal que aparece na relação de fornecedores do político é a Aviation, onde ele informou ter gastado aproximadamente R$ 112 mil com o aluguel de dois jatinhos. A empresa é uma sociedade com Marcos Paulo de Oliveira, o segundo maior doador da campanha, com R$ 900 mil, ficando atrás apenas do próprio Marçal, que empenhou cerca de R$ 1,3 milhão em suas candidaturas frustradas à Presidência e a deputado federal de São Paulo.

Marçal não utilizou recursos do Fundo Eleitoral em sua campanha. No entanto, caso o dinheiro arrecadado não fosse gasto pelo candidato, a sobra iria para o Pros, partido ao qual ele era filiado.

As duas movimentações financeiras entre o candidato e suas empresas embasaram o inquérito que tramita em sigilo na 1ª Vara Eleitoral de São Paulo. De acordo com documentos a que o GLOBO teve acesso, Marçal começou a ser investigado pela PF após o recebimento, pelo Coaf, de um relatório de inteligência financeira que constatou inconsistências. Nele, foram listadas 42 movimentações financeiras consideradas suspeitas nas contas de Pablo Marçal. Ao instaurar o inquérito, a PF destacou que Marçal é sócio de mais de 20 empresas, a maioria criada em 2021.

Em um trecho do inquérito, a PF destaca que o Coaf identificou uma “movimentação milionária entre as empresas administradas por Pablo, sua pessoa física e sua campanha presidencial”. Entre 1º de agosto e 9 de outubro de 2022, durante o período eleitoral, a empresa Marçal Holding LTDA enviou à conta física de Pablo, por meio de Pix, um total de R$ 3,6 milhões. No mesmo período, Pablo enviou à Marçal Participações LTDA um total de R$ 1,6 milhão. A Aviation Participações LTDA, que recebeu R$ 112 mil da campanha presidencial, enviou a Pablo R$ 154 mil entre agosto e outubro.

A defesa de Marçal assume que a movimentação de recursos para benefício próprio aconteceu durante o período eleitoral, mas alega que não houve “infração de qualquer norma legal”.

“O cerne da investigação gira sobre o fato de Pablo ter sido o maior doador de sua campanha, e ter locado veículos e aeronaves de empresas da qual faz parte do quadro societário, movimento esse que não infringe qualquer norma legal, uma vez que foram utilizados os instrumentos jurídicos aceitáveis pela Justiça Eleitoral”, diz o texto.

Há ainda uma outra movimentação financeira suspeita envolvendo uma transferência de recursos entre suas duas campanhas, para presidente e para deputado federal. Na campanha para o Congresso, foi declarado como receita um valor de R$ 407 mil, que seria doação da campanha presidencial de Pablo Marçal à sua campanha de deputado federal.

Entretanto, o mesmo valor também consta no campo de despesas, como repasse da campanha de deputado à campanha presidencial. Existem também divergências entre valores doados de uma campanha para a outra: a candidatura presidencial declarou ter doado R$ 387 mil para a candidatura a deputado, valor que não consta da mesma forma como receita na segunda campanha.

Pablo Marçal era inicialmente candidato à presidência da República pelo Pros, mas o partido decidiu apoiar Lula (PT), e o coach passou a disputar uma vaga na Câmara dos Deputados. Ele foi eleito, mas teve sua candidatura indeferida.

O Globo