“Comunistofóbicos” têm medo de Lula

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Foto: O Antagonista

Bolsonaro gastou baldes de saliva nos últimos anos para infantilizar a política. Como nas antigas cantigas de ninar entoadas para fazer criancinhas dormir incutindo-lhes o terror, o capitão injetou no imaginário nacional o medo de que o comunismo surgiria do nada para pegar os eleitores que têm medo de careta. Pesquisa Datafolha divulgada neste sábado revela que a tática foi um sucesso: 52% dos brasileiros acreditam que o Brasil corre o risco de virar um país comunista. Entre os eleitores que votaram em Bolsonaro no ano passado, o percentual sobe para notáveis 73%. Nos últimos dias, o inelegível ganhou um inesperado aliado. Lula decidiu assumir, gostosamente, o papel de boi da cara preta. Na quinta-feira, enquanto o Tribunal Superior Eleitoral construía a maioria de 5 a 2 que, no dia seguinte, baniria o capitão das urnas até o ano de 2030, o presidente petista discursava para a plateia esquerdista do Foro de São Paulo, reunida em Brasília. Lula elogiou os ditadores Fidel Castro e Hugo Chávez. E disse que “se orgulha” do rótulo de “comunista”. Na véspera, o pajé do PT já havia afagado o ditador venezuelano Nicolás Maduro numa entrevista na qual declarou que a democracia é algo “relativo”.

Condenado, Bolsonaro fez pose de “injustiçado” e disse que o banimento o transformará num “cabo eleitoral de luxo”. Neste sábado, nas pegadas do julgamento do TSE e da divulgação da pesquisa do Datafolha, Lula foi instado a comentar o veredicto do TSE. Afirmou que Bolsonaro “é um problema da Justiça.” Engano. Eleito no ano passado com a magra vantagem de 1,8% dos votos válidos, Lula demora a perceber que o futuro político do rival está nas suas mãos. A paulada da Justiça Eleitoral tonteou Bolsonaro. Mas não decretou sua morte política. Lula parece empenhado em conceder-lhe uma sobrevida. Valdemar Costa Neto, o dono do PL, maneja a vitimização de Bolsonaro com maestria. Cavalgando uma megabancada de 99 deputados federais vitaminada pelo bolsonarismo, já havia lançado no ano passado o projeto “Bolsonaro 2026”. Em evento público, apresentou o projeto como uma cruzada contra o “comunismo” e o “socialismo”. Nos bastidores, Valdemar dizia coisa diferente. Tramava, em verdade, converter Bolsonaro em garoto-propaganda das campanhas do PL para a eleição municipal de 2024. Com a língua solta, Lula morde a isca, potencializando os planos do ex-mensaleiro Valdemar. Se Lula tiver saúde e desempenho na economia, será candidato a um quarto mandato presidencial em 2026. Nesse contexto, o pior equívoco que pode cometer é o de imaginar que o Tribunal Superior Eleitoral pulverizou a influência política de Bolsonaro. Se a pesquisa do Datafolha serviu para alguma coisa foi para demostrar que o antipetismo não é uma orquídea que prescinde de adubo. O Brasil continua dividido. Metade do eleitorado acredita que a esquerda come criancinhas. Parte da outra metade ainda pode ser seduzida pela tese segundo a qual a ultradireita, a despeito da imagem já bem rachadinha e do apreço por joias sauditas, ainda pode ser um mal menor.

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