Deputado diz que mulheres servem para “procriação”

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Foto: Reprodução/TV Câmara

A última sessão da CPI do MST antes do recesso parlamentar foi marcada por uma briga entre deputados governistas e de oposição. Após uma votação relâmpago, em que 21 requerimentos foram aprovados, um bate-boca que envolveu a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP) e o relator do colegiado, Ricardo Salles (PL-SP), fez com que o presidente Coronel Zucco (Republicanos -RS) ameaçasse interromper a sessão, caso a parlamentar não permitisse que os demais falassem. Salles, então, pediu para que os demais deputados fizessem uma representação conjunta contra Sâmia.

Um dos alvos de Sâmia, General Girão (PL-RN) pediu a palavra para fazer a sua defesa e disse que a deputada “se vale de ser mulher para silenciar os demais e se vitimizar, quando lhe convém”. Ao final do seu discurso, entretanto, Girão disse que respeitava todas as mulheres “por serem responsáveis pela procriação e pela harmonia da família”. A fala gerou revolta nas demais mulheres presentes no plenário.

A confusão começou após o deputado Éder Mauro (PL-PA) ter dito que Sâmia e Talíria Petrone (PSOL-RJ) faziam parte do “chorume comunista” e solicitado a retirada das notas taquigráficas, nas quais ele é acusado de tortura. O deputado também as acusou de financiamento de invasões.

— Sinta o cheiro do chorume do comunismo à sua volta — disse Éder.

Sâmia, então, mesmo com o microfone desligado, disse que adesivos de Éder Mauro haviam sido encontrados no Complexo Penitenciário da Papuda. A partir daí, Girão assumiu a fala. Exaltada, Sâmia afirmou que um parlamentar alvo de inquérito do Supremo Tribunal Federal começaria a falar. Ricardo Salles, com quem Sâmia já protagonizou embates nesta CPI, disse:

— Lá vem a deputada que é sempre interrompida querer interromper a todos.

A sessão ficou por alguns minutos com os microfones desligados, enquanto Sâmia falava. Salles solicitou à secretaria da Mesa que os membros da CPI em conjunto representassem contra Sâmia Bomfim.

— Sempre que esta deputada quer se vitimizar diz que é interrompida, então esse momento precisa ficar registrado — afirmou. Enquanto ele falava, Sâmia seguiu argumentando que a mesma postura não havia sido adotada quando ela foi interrompida.

Girão pediu para que a Polícia Legislativa tirasse Sâmia do plenário. Com isto em debate, o presidente da CPI se exaltou.

— Qual é o seu objetivo, deputada Sâmia? Quer que eu encerre a sessão? Fique calada e respeite os demais deputados.

Com os ânimos mais calmos, Girão lamentou o episódio, mas fez uma fala interpretada como “machista e misógina”.

— Eu lamento tudo isso, mas é o jeito da esquerda protestar. Estou sendo acusado de crimes que não cometi, enquanto vejo o terrorismo do MST. Precisamos mostrar para a população quem apoiou eses atos. A deputada que está vociferando contra mim sabe que ainda tenho direito à esquerda. Ela acha que por ser mulher não pode ser interrompida. Já cobrei isto ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). No Código Penal, mulheres não são isentas. Respeito muito as mulheres, responsáveis pela procriação e harmonia da família — afirmou.

Até mesmo as parlamentares de oposição se mostraram constragidas com a declaração de Girão.

CPI do MST aprovou, nesta quarta-feira, seus últimos requerimentos antes do início do recesso parlamentar, na próxima semana. Em votação relâmpago, feita em bloco, 21 requerimentos foram aprovados. Em foco, estão autoridades de estados como a Bahia, onde teriam ocorrido invasões irregulares do MST neste ano. Um dos documentos aprovados pedia, por exemplo, para ouvir o Comandante da Polícia Militar do Estado da Bahia, Paulo José Reis de Azevedo Coutinho. O secretário de Segurança Pública da Bahia, Marcelo Werner, também que comparecer. A Polícia Civil do estado é alvo de um requerimento de informações.

O Globo