Divisão na oposição racha no PL e no PP

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Foto: Mateus Bonomi/Agif/AFP

Bastou um semestre à distância do governo para que os dois maiores partidos da oposição mergulhassem numa crise de identidade. A nostalgia do poder dividiu o Partido Liberal de Valdemar Costa Neto e o Progressistas de Ciro Nogueira e Arthur Lira. Eles possuem, juntos, uma bancada de 148 deputados e 17 senadores. Somam mais votos nos plenários do Congresso do que o bloco governista comandando pelo Partido dos Trabalhadores. Muitos parlamentares, no entanto, preferem sofrer no poder do que viver longe dele. Principalmente, às vésperas de uma nova rodada de disputas municipais. No PL, por exemplo, a palavra “oposição” foi substituída por “direita”. Costa Neto, presidente do partido, explica: quem integra o PL é “de direita” — e somente isso. Evita reconhecer até mesmo o grupo de extremistas que passou a abrigar, sob a liderança de Jair Bolsonaro. “Extrema-direita, no nosso entendimento, é o Hitler”, disse à Globonews, em peculiar malabarismo retórico. Os demais, ele distingue, não são exatamente oposicionistas, apenas exercem a liberdade de votar com o governo: “É preciso ter esse entendimento, são deputados que [em votações na Câmara] têm outros compromissos, mas que não deixam de ser de direita.” O poder é magnético, funciona como um ímã de votos no Legislativo. A proximidade das eleições municipais costuma deixar parlamentares mais sensíveis ao encanto dos cargos e verbas federais. No PL não é diferente. Muitos demonstram mais interessados na própria sobrevivência eleitoral do que num alinhamento com o grupo de Bolsonaro, cuja preocupação explícita é com a busca de meios para eventual derrubada do governo. Costa Neto resolveu vetar punição aos parlamentares do PL que votem a favor ou assumam cargos no governo. Foi a forma que encontrou para reafirmar seu poder, internamente, e conter a escalada bolsonarista para controlar o partido — como ocorreu no extinto PSL. No Progressistas, as circunstâncias são diferentes, mas o resultado é o mesmo. Não rebelião, apenas uma silenciosa travessia da margem da oposição para o estuário do governo. Ciro Nogueira, senador e presidente do PP, produziu uma pérola: ““Nosso partido tem viés de oposição”, disse à CNN. Significa, explicou, sustentar “diferenças claras e marcantes sobre a forma de ver o país “em relação ao PT de Lula. Mas, ressalvou, “ninguém está proibido” de votar a favor ou integrar o governo. Prevê-se para agosto o embarque de parte do Progressistas no governo Lula, sob a liderança de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara. Lira fez do Centrão o esteio parlamentar do governo Bolsonaro, em parceria com Ciro Nogueira, na época chefe da Casa Civil. No Progressistas, esse é o desfecho esperado de uma conversa que começou há quatro meses. Em reunião, em Brasília, Ciro Nogueira propôs que o PP assumisse a vanguarda da oposição a Lula. Quando acabou de falar, foi chamado a um grupo no canto da sala. E ouviu uma bem-humorada provocação no sotaque nordestino: — Tá tudo muito bom, tudo muito bem, mas, ô Ciro, ensina aí pra gente como é ser oposição. Ele rebateu, sorrindo: — Vamos cobrar gritando: “Cadê a picanha?” — referência à promessa mais repetida por Lula na campanha (“O povo vai voltar a comer um churrasquinho, uma picanha e tomar uma cervejinha…”) Então, Luiz Eduardo, o deputado “Lula” de 22 anos e quatro oligarquias pernambucanas no sobrenome (Queiroz Campos da Fonte Albuquerque), emendou: — É, tio, mas esse negócio de óculos Ray-Ban, sapato branco e oposição só fica bonito nos outros…

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