Igreja Universal tenta barrar aliança evangélica com Lula

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Foto: Reprodução

Influente no Republicanos desde a fundação do partido, a bancada ligada à Igreja Universal do Reino de Deus pressiona por espaços após ser espremida por outras alas da sigla, que incluem o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e parlamentares alinhados ao Centrão.

O incômodo com a perda de terreno de pastores, substituídos em diretórios estaduais como os do Rio, de São Paulo e de Minas neste ano, já foi relatado em conversas reservadas ao presidente nacional do Republicanos, deputado federal Marcos Pereira (SP), que também é bispo da Universal.

A bancada política da igreja também ficou fora da negociação por cargos no governo Lula (PT). Cotado para o Ministério do Esporte, o deputado Silvio Costa Filho (PE) é aliado de Lula e do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sem ligação com a igreja. Em outros governos, nomes da Universal foram os indicados a ministérios, como Marcelo Crivella, titular da Pesca na gestão Dilma, e o próprio Pereira, ministro da Indústria no governo Michel Temer.

No partido, a avaliação é que lideranças atuais da igreja, como o bispo Renato Cardoso, foram enfáticos na sua oposição ao PT na campanha, o que dificulta uma conversa com a gestão Lula. Cardoso é genro do bispo Edir Macedo, fundador da Universal, que tinha interlocução com gestões petistas antes de apoiar o ex-presidente Jair Bolsonaro.

— Não fica bem para o partido essa eventual ida para um ministério. Temos nomes que não têm a ver com a igreja e não querem se aproximar de Lula — afirmou o deputado estadual Gilmaci Santos (SP).

O protagonismo dado a Tarcísio, considerado um potencial presidenciável para 2026, também afeta o grupo da Universal. Ele não escolheu nomes da igreja para seu primeiro escalão em São Paulo e, na prática, delegou a articulação política na Assembleia Legislativa (Alesp) para PL e PSD. A bancada do Republicanos na Alesp se movimenta para emplacar Gilmaci, bispo da Universal, em uma vaga no Tribunal de Contas de São Paulo (TCE-SP) que abrirá em setembro. Embora Gilmaci afirme que a relação com Tarcísio “sempre foi boa”, integrantes da sigla cobram mais atenção.

Há movimentos similares em outros estados. Na Bahia, o deputado federal Márcio Marinho, um dos poucos bispos da Universal que manteve o comando do seu diretório, tem se colocado como opção para compor a chapa do atual prefeito de Salvador, Bruno Reis (União), que tentará a reeleição em 2024. No Rio, parlamentares ligados à Universal cobram apoio da nova direção, a cargo do prefeito de Belford Roxo, Waguinho, sob risco de esvaziar candidatos da sigla nas eleições municipais. O prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD), que derrotou Crivella, em 2020, tem se aproximado de caciques da legenda.

Em pautas importantes no Congresso, como a Reforma Tributária, a posição da Universal segue sendo uma espécie de “termômetro” do Republicanos, disseram parlamentares ao GLOBO. O bispo Alessandro Paschoall, que coordena um grupo de aconselhamento político da igreja, reúne-se semanalmente com Pereira.

O Globo