Lula rifa ministra do Turismo e blinda a da Saúde

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Foto: Evaristo Sá/AFP

No momento em que rechaça a possibilidade de substituir a ministra da Saúde, Nísia Trindade, por um indicado do Centrão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cede na outra ponta da mesa de negociação e se compromete a compensar o grupo político de Daniela Carneiro, que vai selar hoje a saída da pasta do Turismo por pressão de seu partido, o União Brasil. O petista fechou acordo para a construção de um Instituto Federal de Educação e um hospital do câncer em Belford Roxo, a cidade da Baixada Fluminense governada pelo marido dela, Waguinho, além de negociar uma nova posição no governo para a própria ministra, que é deputada federal licenciada.

Lula mandou um recado para o Centrão ontem ao afirmar que Nísia Trindade continuará à frente do Ministério da Saúde. Ele disse que ligou para ela após ler uma publicação na imprensa sobre articulações em curso que teriam por objetivo derrubá-la. O presidente deu as declarações ao lado da ministra durante participação na 17ª Conferência Nacional de Saúde (CNS), em Brasília, com a presença de mais de seis mil representantes da sociedade civil, entidades, fóruns regionais, movimentos sociais e organizações.

— Eu fiz questão de ligar para a Nísia e disse: “Vá dormir e acorde tranquila porque o Ministério da Saúde é do Lula, foi escolhido por mim e ficará até quando eu quiser”— afirmou ele. — Tive muita sorte com meus ministros da Saúde, mas precisou uma mulher para fazer mais e fazer melhor.

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Nísia foi amplamente aplaudida pelos participantes do evento. O Centrão tem pressionado para ampliar seu espaço no primeiro escalão e tem mirado a Saúde, uma das pastas com maior capilaridade do governo. A ministra tem sido aconselhada a se fortalecer politicamente para aliviar a pressão. Nesse processo, passou a destravar emendas e a se reunir com deputados e senadores, inclusive da oposição. Em seu discurso, Nísia agradeceu a presença de parlamentares no evento. O orçamento da Saúde soma R$ 189,3 bilhões, atrás apenas dos ministérios da Previdência e do Desenvolvimento Social, responsável pelo Bolsa Família.

Enquanto blinda a Saúde, Lula vai sacramentar hoje a troca de comando no Ministério do Turismo. Nos últimos dias, contudo, o petista ainda buscava contrapartidas para evitar que Waguinho e Daniela passassem a trabalhar contra o governo. Nesse pacote estão a entrega de um hospital e um instituto de educação em Belford Roxo. Atual titular da pasta, Daniela Carneiro perdeu o apoio da sua sigla, o União Brasil, e pediu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para deixar a sigla sem perder o mandato de deputada federal por infidelidade partidária.

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A iminência da demissão da mulher fez com que Waguinho subisse o tom nas críticas ao ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), com quem se reuniu na terça-feira. Ao GLOBO, o prefeito de Belford Roxo voltou a lembrar do apoio que o deputado Celso Sabino (União-PA), que deve assumir o ministério, deu a Jair Bolsonaro na campanha de 2022. Ele argumenta também que o União Brasil não entregará mais votos ao governo no Congresso com a troca:

— O ministro das Relações Institucionais parece atuar para fortalecer Bolsonaro. Padilha não está tendo a sensibilidade e o comprometimento com a valorização da mulher no espaço de poder, já que articula para a saída da deputada mais votada do Rio, evangélica, pela entrada de um homem ligado ao ex-presidente da República e sem compromisso com o governo.

No início da noite de ontem, Waguinho mudou o tom e disse que ele e Padilha “selaram a paz”. A expectativa é que Daniela entregue a Lula uma carta deixando o cargo “à disposição” e agradecendo pela oportunidade de ter sido ministra.

O Globo