MT e SC viram redutos da extrema-direita

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Foto: Cadu Gomes

O posicionamento das bancadas dos estados na Câmara ainda espelha, em parte, os resultados das urnas nas eleições presidenciais do ano passado. Levantamento feito pelo GLOBO, com base nas principais votações do primeiro semestre, aponta que os deputados federais do Mato Grosso e de Santa Catarina são os mais oposicionistas ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em média, 76% dos congressistas mato-grossenses e 73% dos catarinenses votaram contra interesses do Palácio do Planalto na Casa.

Além disso, de todos os estados, apenas a bancada de Santa Catarina foi majoritariamente contra todas as posições defendidas pelo governo neste ano. No estado do Sul, Jair Bolsonaro (PL) somou 69% dos votos válidos no segundo turno do último pleito. Esse índice foi de 65% em Mato Grosso.

O levantamento considerou os resultados do plenário nas votações do Marco do Saneamento, Marco Temporal, MP dos Ministérios, Arcabouço Fiscal e Reforma Tributária. A bancada mais governista é a do Piauí, com uma média de 85% de votos a favor do governo entre os deputados. No estado, Lula teve 76% de apoio nas urnas no segundo turno de 2022, seu melhor resultado. Também votam majoritariamente com o governo parlamentares da Bahia (75%) e do Ceará (73%), também do Nordeste.

Além de Mato Grosso e Santa Catarina, apenas outras três unidades da Federação foram, na média, mais contrários às posições defendidas pelo governo Lula: Rondônia (71%), Distrito Federal (62%) e Rio Grande do Sul (53%). Em Goiás e no Rio Grande do Norte, as bancadas ficaram em um empate entre os oposicionistas e os governistas. Entre os deputados dos demais estados, o governo conseguiu que a maioria estivesse alinhada a seus interesses no plenário.

Infográfico mostra nível de governismo das bancadas estaduais — Foto: Editoria de Arte

Pesquisadora do Observatório do Legislativo Brasileiro (OLB) e professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP-SP), Joyce Luz aponta que, historicamente, a eleição tende a atrair deputados da aliança do presidente à sua base. Além disso, os governadores dos estados cumprem um importante papel nessa dinâmica. Regiões onde Lula tem aliança com o mandatário estadual tendem a ajudar a consolidar a composição da base. Ainda assim, segundo a especialista, o fator preponderante é a correlação de forças partidárias nos estados. Quanto mais siglas aliadas, melhor tende a ser o cenário para o Executivo:

— Esse comportamento legislativo vai depender da quantidade de partidos que estão na base aliada do governo e que formam as bancadas desses estados.

No entanto, principalmente nos estados mais refratários a Lula, há parlamentares de partidos da base como MDB e União Brasil que votam sistematicamente contra a orientação do governo. Isso ocorre em Santa Catarina, como destaca o cientista político e professor Julian Borba, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Borba afirma que a política catarinense tem uma tradição de domínio político de famílias ligadas à direita, o que contribui para o quadro. Nos últimos anos, elas aderiram ao bolsonarismo. Ele ressalta, porém, que a esquerda já teve bom desempenho na região em eleições como a de 2002. Dessa forma, Lula poderia diminuir essa resistência ao atender pleitos de deputados como a liberação de emendas, acomodação de quadros catarinenses no governo, e na articulação de políticas que beneficiem o estado:

— O desempenho do governo sendo bem avaliado, como no final de Lula 1 e 2, dificilmente vai trazer algum benefício para a oposição continuar sendo oposição. Ela vai ter mais custo do que ganhos em sua ação de boicote ou de votação contra o governo.

No caso do Piauí, apenas a força do PT não explica o alto alinhamento com o governo, afirma o cientista político da Universidade Federal do Piauí (UFPI) Fenelon Rocha. Segundo ele, historicamente as lideranças e forças políticas piauienses se arranjam para aderir aos mandatários de ocasião. Isso garantiria alianças políticas sempre costuradas em torno de quem ocupa a cadeira do Executivo.

— A gente vê todos os blocos partidários fazendo esforço para estar no guarda-chuva de proteção do governo estadual e federal. Um exemplo são prefeitos que eram do PP e estão se filiando a partidos da base de Lula agora — diz Rocha.

O Globo