Polícia recusa registrar queixa contra agressor bolsonarista

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O analista de sistemas e escritor Thiago Lee, de 35 anos, comemorava o aniversário de uma amiga na calçada de um bar em São Paulo, na noite do último sábado. Ele ainda não sabia, mas o broche que usava incomodou um homem que passava pelo lugar. “Ah, você é antifascista, né?”, Lee diz ter ouvido do agressor antes de ser agredido com um soco.

Quando se levantou, perdeu o agressor de vista, e notou que o bottom tinha sido levado embora. A agressão aconteceu na rua Guarau, perto da estação Praça da Árvore do Metrô, na Zona Sul da cidade.

O estabelecimento em que estava, diz Lee, era um “bar de bairro” e não tinha bandeira política. Mas o fato de sua amiga ser trans e a comemoração ter reunido pessoas LGBT pode ter chamado a atenção do agressor, na sua opinião.

— Foi um soco, mas e se tivesse sido uma faca? — diz Lee.

Na câmera interna é possível ver o broche antifascista de Thiago Lee — Foto: Reprodução

Na segunda-feira à noite, ele conseguiu imagens do momento da agressão com o dono do bar, mas as imagens não permitem ver com exatidão a cena. É possível identificar que um homem que passava pela calçada aponta para a própria lapela, numa posição similar em que o bottom de Lee estava, segundos antes de seu companheiro agredi-lo.

A vítima tentou registrar boletim de ocorrência no 35º Distrito Policial do Jabaquara, mas foi desaconselhado pelo agente de plantão. Como Lee não soube identificar o agressor, o policial orientou que não valeria a pena o registro, a menos que obtivesse imagens da câmera de segurança do bar.

A postura do policial foi inadequada, segundo um advogado criminal ouvido pelo GLOBO. Para Fernando Castelo Branco, professor de processo penal e criminologia na PUC-SP, o soco recebido por Lee caracteriza o crime de lesão corporal.

— A polícia judiciária serve exatamente para receber a notícia de qualquer conduta ilícita prevista pela lei penal. Ela deve registrar o boletim de ocorrência e instaurar um inquérito policial. Não saber a autoria de um crime não afasta a responsabilidade da autoridade policial de investigar. É exatamente para isso que serve o inquérito — diz o advogado.

São Paulo teve outros casos de violência relacionados a ideologia política nos últimos anos. Em novembro de 2021, o músico Dennis Sinned, de 38 anos, foi atacado por um grupo de dez a 12 homens.

O episódio ocorreu no Dia da Consciência Negra, no Bomber Pub, um pequeno bar de Pinheiros que se descreve como “forjado na música subversiva”. O local havia sido alvo, dias antes, de uma pichação que exibia uma suástica. Antes do ataque, o estabelecimento anunciava em cartaz a banda de Sinned, declaradamente antifascista. Os elementos alimentaram a hipótese de uma ação planejada.

Antifas

A bandeira antifascista voltou a se popularizar no Brasil nos últimos anos, com o crescimento do extremismo de direita e a disseminação de células neonazistas pelo país.

O símbolo do movimento antifascista  — Foto: Reprodução

O símbolo do movimento antifascista — Foto: Reprodução

O Globo