“Prefeitáveis” de SP têm que propor solução para Cracolândia

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Foto: André Penner / AP

Ainda é cedo para saber quais são os temas que vão pautar a próxima campanha eleitoral para a escolha de prefeitos em 2024. Aqui em São Paulo, entretanto, um deles, a Cracolândia, já tem cadeira cativa nesse debate que, seja para quem prometeu dar-lhe uma solução e não conseguiu ou para quem pedirá votos garantindo que poderá solucioná-lo, desafiará as campanhas. Por isso, enquanto a oposição se prepara para cobrar as ações prometidas em pleitos anteriores, na Prefeitura cresce a ideia de que Ricardo Nunes (MDB) deve fazer um chamado à sociedade, aos governos estadual e federal, tentando mostrar que está na hora de parar de criticar e ajudar a resolver uma situação que se tornou dramática e, aparentemente, sem solução.

O objetivo do chamado seria o de dividir responsabilidades, pois o tráfico de drogas exige um forte trabalho sobretudo do governo estadual. Já o governo federal pode contribuir com investigações sobre grupos criminosos, combate ao tráfico e ao crime organizado e políticas públicas que amenizem o sofrimento e tratem os usuários de drogas.

Essa proposta estaria embasada em pesquisas qualitativas mostrando que são praticamente iguais os percentuais de paulistanos que responsabilizam os governos municipal (27,8%), estadual (28,4%) e a sociedade (22,1%), pela falta de qualquer perspectiva de solução para a cracolândia.

Para quem já pensa na campanha do ano que vem, o primeiro passo seria o de admitir que não existe nenhuma solução simples ou fácil que possa livrar São Paulo do macabro troféu de “cidade da cracolândia”. E o prefeito da cidade, seja ele quem for, terá que encarar de frente esse problema. Afinal, há mais de vinte anos que promessas vão e voltam e a situação só se agrava.

Os debates devem se dar em torno das propostas que até agora não chegaram a lugar algum, como, por exemplo, a ideia da internação compulsória. Assessores próximos de Nunes creem que dificilmente o problema será solucionado sem a internação dos usuários de drogas, em especial àqueles que já sem encontram em alto nível de comprometimento. Nesse sentido, argumentam que essas pessoas já chegaram a tal estágio de alienação que não têm condições de decidirem seu destino. Para quem pensa diferente, entretanto, a internação compulsória será apenas mais um ato de violência contra as pessoas que já sofreram e sofrem com o uso das drogas.

A situação se agravou com o uso da K9 – conhecida como maconha sintética – cujos efeitos ajudaram a transformar a população usuária da droga em verdadeiros zumbis que perambulam pelos pontos centrais da cidade, transformando cartões postais, como a Praça da Sé, em lugares degradados e sem perspectiva de voltar a ser pontos turísticos.

Com o aumento da gritaria de comerciantes e moradores da região, seis meses depois de criado um grupo de trabalho que não apresentou solução viável, há poucos dias o governador Tarcísio de Freitas sugeriu retirar as pessoas do centro da cidade e realocá-las no bairro do Bom Retiro onde, segundo ele, o governo estadual teria condições de oferecer-lhes tratamento e moradia. A população da região protestou veementemente contra a ideia que já foi descartada. Em outra ação, no último fim de semana, traficantes foram presos. Mas especialistas apontam que eles logo voltam ou são substituídos.

Quem trabalha com o problema, sabe que não há solução fácil e que o tempo corre contra àqueles que no próximo ano terão que explicar aos eleitores até quando a população da cidade terá que conviver com essa dramática situação, vendo seres humanos se degradarem sem que, aparentemente, nada seja feito por eles.

Estadão