Provável sucessor de Campos Neto é “heterodoxo moderado”

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Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Sabatinado pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado na manhã desta terça-feira (4/7), o economista Gabriel Galípolo não deve ter grandes problemas para ser aprovado e assumir a Diretoria de Política Monetária do Banco Central (BC). Antes disso, seu nome precisará ser chancelado pelo plenário do Senado.

Ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda, número 2 do ministro Fernando Haddad na pasta, Galípolo foi indicado pelo chefe da equipe econômica para substituir Bruno Serra Fernandes no BC.

Entre as suas futuras atribuições no cargo, estarão administrar a execução dos instrumentos das políticas monetária e cambial, para o cumprimento da meta definida para a taxa básica de juros (Selic), e estabelecer orientação técnica para a administração das reservas internacionais do país.

Desde o início de sua passagem pelo governo federal, Galípolo foi visto como uma “ponte” entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o mercado financeiro, hostil ao PT. Formado em Ciências Econômicas e mestre em Economia pela PUC-SP, Galípolo foi chefe da Assessoria Econômica da Secretaria de Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo em 2007, durante o governo do tucano José Serra (PSDB). De 2017 a 2021, foi presidente do Banco Fator, instituição financeira focada em parcerias público-privadas (PPPs) e programas de privatização.

Considerado um “heterodoxo moderado”, Galípolo é adepto de teses desenvolvimentistas, notadamente a maior presença do Estado em setores estratégicos, como indutor do crescimento econômico e da industrialização do país. Por outro lado, não compartilha das críticas de setores da esquerda às PPPs, concessões e privatizações.

Ao lado do economista Luiz Gonzaga Belluzzo, também de formação heterodoxa e muito ligado a Lula, Galípolo escreveu três livros: “Manda quem pode, obedece quem tem prejuízo” (2017), “A escassez na abundância capitalista” (2019) e “Dinheiro: o poder da abstração real” (2021).

Como provável novo diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo participará das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) que definem a taxa básica de juros. O comitê é um dos principais alvos de Lula desde que assumiu a Presidência da República – ele critica o patamar atual da Selic, de 13,75% ao ano, considerado muito alto pelo governo.

Em conversa com jornalistas, no dia 9 de maio, Galípolo – que tem boa relação pessoal com o presidente do BC, Roberto Campos Neto – amenizou os ataques do Executivo à autoridade monetária.

“Todo mundo quer baixar os juros. Eu tenho convicção de que toda a diretoria do BC não tem nenhum tipo de satisfação, nem profissional nem pessoal, de ter um juro mais alto”, afirmou. Em sua primeira declaração após ser indicado por Haddad para o cargo no BC, Galípolo prometeu “tentar criar um ambiente para que o mercado possa colocar os preços da maneira adequada e que o BC possa sancionar essa redução de juros”.

Totalmente alinhado ao discurso de Haddad, Galípolo já disse, mais de uma vez, que as políticas fiscal e monetária devem estar em “harmonia”. Embora de forma bem menos explícita do que Lula e Haddad, o futuro diretor de Política Monetária do BC deixa claro que, na sua avaliação, a taxa básica de juros precisa cair.

“Quando o ministro Fernando Haddad fala em harmonizar as políticas monetária e fiscal, é no sentido de tomar medidas que vão criando o ambiente mais confortável para termos uma taxa de juros capaz de produzir os resultados mais esperados para a sociedade”, disse o economista no dia 25 de maio, durante um seminário promovido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Favorito da bolsa de apostas em Brasília para assumir a presidência do BC em 2024, na sucessão de Campos Neto, Galípolo prefere não comentar o assunto publicamente. Mas também não descarta a possibilidade.

“Eu não vim para cá para ter nenhum tipo de projeto de carreira pessoal, não faz nenhum sentido para mim. Então, a minha posição sempre foi, tanto para o presidente, quanto para o ministro Haddad, a de que eu estou aqui para tentar colaborar com o projeto”, disse a repórteres que o questionaram a respeito dessas especulações, no dia 9 de maio.

“Desde que se entenda que eu posso colaborar, e na posição que se entenda que eu possa colaborar, estou à disposição do presidente e do ministro Fernando Haddad para jogar na posição que eles entenderem que é a mais adequada”, completou.

A sintonia entre Haddad e Galípolo vem desde antes do governo e se expande para outros temas da economia. Em abril de 2022, por exemplo, ambos assinaram um artigo publicado pelo jornal Folha de S.Paulo no qual defendiam a criação de uma moeda única na América do Sul.

No texto, Haddad e Galípolo afirmam que “a experiência monetária brasileira, como o êxito na operacionalização da URV (Unidade Real de Valor), pode subsidiar um paradigma à criação de uma nova moeda digital sul-americana (SUR), capaz de fortalecer a região”. “A moeda seria emitida por um Banco Central Sul-Americano, com uma capitalização inicial feita pelos países-membros, proporcional às suas respectivas participaç’ões no comércio regional”, escrevem.

Ainda antes do início do terceiro mandato de Lula, Galípolo fez coro às críticas do petista ao teto de gastos. Em novembro do ano passado, em um fórum organizado pelo grupo Esfera Brasil, disse que era necessária uma “missa de sétimo dia” para o teto, instituído durante o governo de Michel Temer (2016-2018) para controlar as despesas públicas.

“Uma regra fiscal que funciona por excepcionalidades o tempo todo é uma regra que já não existe”, afirmou Galípolo. Meses depois, já como número 2 de Haddad na Fazenda, o economista participou da elaboração e das negociações em torno do novo marco fiscal, que substituirá o teto.

Metrópoles