Tarcísio não vai mais mudar Cracolândia de lugar

Destaque, Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Felipe Marques/Zimel Press/Agência O Globo

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), recuou nessa quinta-feira (20) da proposta lançada por ele próprio, um dia antes, para a cracolândia e desistiu de tentar transferir cerca de mil usuários de drogas da Santa Ifigênia para o Bom Retiro, bairros no centro da capital paulista. A proposta criou divergência com o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), que afirmou não ter sido avisado nem discutido a medida anunciada por Tarcísio. Os dois governos divulgaram no fim de janeiro uma parceria e um plano conjunto para tentar enfrentar o problema na região central. Ao anunciar a transferência da cracolândia, na quarta-feira (19), o governador havia dito que a ideia seria deixar as pessoas mais próximas de serviços públicos de atendimento no Bom Retiro. No bairro está instalado o Complexo Prates, com equipamentos públicos para atender pessoas em situação de rua e dependentes químicos. Na mesma entrevista em que falou sobre a medida, Tarcísio levantou dúvidas sobre a eficácia da proposta. “Vamos ver se a estratégica vai dar certo. Não sei, é tentativa e erro”. No mesmo dia, o prefeito foi questionado sobre a proposta e disse que não havia debatido com o governador. “Me parece que houve um mal-entendido”, afirmou Nunes. Depois de ter sido informado sobre a estratégia, o prefeito disse ter se reunido por cerca de 1h20 com Tarcísio. Nessa quinta, o governador afirmou que a ideia não vingaria. “Não vai funcionar, vou voltar atrás, sou humano e não tenho problema de corrigir o caminho”, disse Tarcísio, em entrevista à CNN Brasil. Em nota, o governo estadual disse que depois de “novas avaliações a estratégia de direcionar o fluxo para o Complexo Prates será revista”. “Novas possibilidades para solucionar o problema da cracolândia estão sendo estudadas e serão divulgadas em breve”, afirmou o governo Tarcísio. Horas depois, as equipes da prefeitura e do governo estadual se reuniram novamente para discutir ações. O prefeito tentou minimizar as divergências e disse que os dois governos atuarão em conjunto. “Como é um tema tão complexo, a gente vai fazendo ajustes o tempo inteiro”, disse Nunes. “Uma coisa a gente tem compromissada com o governo do Estado: não haverá ação individual da prefeitura não haverá ação individual do Estado.” A possibilidade de migração da cracolândia gerou protestos de moradores e comerciantes do Bom Retiro. O bairro é um polo de confecção e venda de vestuário frequentado por comerciantes do Brasil todo. Atualmente, os usuários concentram-se na Santa Ifigênia – que já foi reduto de comércio e manutenção de eletrônicos, mas tem registrado o fechamento de lojas por conta da presença de usuários de drogas. Na quarta-feira, houve protestos também na cracolândia, com fogueiras e barricada feita por usuários de drogas. Há cerca de duas semanas, uma operação liderada pela Guarda Civil Metropolitana e pela Polícia Militar tentou deslocar os dependentes químicos para debaixo de uma ponte que dá acesso à Marginal Tietê, também na região central da capital, mas a estratégia não foi bem sucedida. No dia seguinte, os usuários de drogas voltaram para a cracolândia, na Santa Ifigênia. Nunes vêm falando com mais assertividade sobre a possibilidade de usar a internação forçada de usuários na cracolândia. “Chegou a hora de debater esse tema e entender que é inaceitável. Se a pessoa está lá prejudicando a coletividade, prejudicando a saúde dele, [se] ele vai acabar morrendo de tanto usar crack, e temos que tomar atitude como poder público de fazer com que ele se trate e salve sua vida”, disse. “Chegou a hora do divisor de águas.” O prefeito afirmou ainda que os “65% das pessoas” que estão na cracolândia são egressos do sistema prisional. “A sociedade precisa saber disso”, disse. Tarcísio já deu declarações de que, dentro de um pacote de medidas, reconhece a necessidade de pontualmente recorrer a internação compulsória. “Tem aquele que vamos ter que internar compulsoriamente porque perdeu o livre arbítrio, perdeu a capacidade de tomar decisão”, disse em março.

Valor Econômico