União Brasil se aproxima de Lula como nunca

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Foto: Pedro França/Agência Senado/31-05-2023

O União Brasil deu mais alguns passos nesta quarta-feira no lento processo de estreitamento de laços com o governo ao ratificar a escolha do deputado Celso Sabino (PA) para o Ministério do Turismo, ainda oficialmente comandado por Daniela Carneiro, que perdeu o apoio da bancada. O líder do partido no Senado, Davi Alcolumbre (AP), reuniu-se com o presidente Lula no Planalto e assegurou o consenso em torno do parlamentar. Em frentes abertas de negociação, o partido também tem intenção de assumir os Correios e deve ser contemplado na escolha da chefia da Funasa, juntamente com outras siglas do Centrão.

O encontro entre Lula e Alcolumbre destravou o último nó para a troca no Turismo, que se arrasta desde abril. Rusgas entre Sabino e o líder do União na Câmara, Elmar Nascimento (BA) fizeram com que alas do partido chegassem a cogitar outro nome para o posto. Na reunião, no entanto, Lula disse que Sabino será chamado ao Planalto para o convite ser oficializado.

Durante a votação da Reforma Tributária, circulou um documento de deputados do partido defendendo o adiamento da votação, e o nome de Sabino estava incluído. Depois, o projeto foi aprovado, com o voto do parlamentar, mas a situação desagradou Nascimento, que é próximo ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) — o comandante da Casa se apresentou como uma espécie de “fiador” da reforma.

Elmar também defende que a legenda assuma o ministério com ingerência sobre a Embratur, hoje chefiada pelo ex-deputado Marcelo Freixo (PT). Freixo, por sua vez, agraciou o União Brasil com um cargo vinculado à presidência da Embratur e se articulou com outros caciques, inclusive o presidente do partido, Luciano Bivar (PE), para se sustentar no posto.

Para a chefia da Funasa, uma indicação política é tida como certa. A ideia é que o nome contemple PP, PSD e União Brasil e seja alguém que já tenha experiência de ter sido funcionário do órgão. Os senadores Hiran Gonçalves (PP-RR) e Daniela Ribeiro (PSD-PB) e o deputado Danilo Forte (União-CE) estão à frente das negociações. Uma reunião com o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) está prevista para hoje.

O governo ainda vai editar um decreto para definir a reestruturação da Funasa. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, e o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), desejam que a estrutura fique no Ministério das Cidades, comandado por Jader Filho (MDB). Já parlamentares do PP, PSD e União Brasil querem deixá-lo na Saúde. Um dos argumentos para isso é o fato de metade das emendas impositivas serem usadas na Saúde, o que permitiria aumentar o orçamento do órgão.

Infográfico: o passo a passo da relação do União Brasil com o governo e as negociações por cargos — Foto: Editoria de Arte

No Centrão, há quem defenda um pacto para que as trocas ministeriais sejam feitas em um “pacotão”, para evitar que a oficialização de um nome emperre outras negociações. Na cota do União Brasil, também há a intenção de assumir os Correios, vinculado ao Ministério das Comunicações, que já está sob o comando da legenda, com Juscelino Filho. O posto é do advogado Fabiano Silva, do grupo Prerrogativas, que já começou uma ofensiva para mantê-lo no cargo. Interlocutores do Planalto afirmam que ele tem boa relação com Lula, que deverá mantê-lo. Além disso, é citado o fato de a legenda já comandar o Postal Saúde, que gerencia o plano de saúde dos funcionários dos Correios. Sindicatos de servidores da estatal também resistem a uma indicação do União Brasil.

Outra mudança bem encaminhada é na Caixa: o PP quer indicar Gilberto Occhi, que já foi ministro nas gestões de Dilma Rousseff e Michel Temer e presidiu o próprio banco. Atual presidente, Rita Serrano, vem perdendo apoio no governo para se manter no cargo.

Na Esplanada, ainda que a ministra do Esporte, Ana Moser, tenha dito que não tratou com Lula sobre uma possível saída, integrantes do Centrão afirmam que o deputado Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) está próximo do posto — representantes da articulação política veem com bons olhos a operação. Governistas avaliam que a mudança pode trazer 35 dos 42 votos do Republicanos na Câmara, com exceção de temas ligados a pautas de costume.

O parlamentar, que esteve com Lula nesta quarta-feira durante audiência do presidente com a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, é bem visto no Planalto por sempre caminhar ao lado dos petistas: apoiou Lula no ano passado, enquanto o partido estava com Jair Bolsonaro, e Fernando Haddad em 2018. Outro ponto a favor dele é o fato de Silvio Costa (Republicanos-PE), pai do parlamentar e suplente da senadora Teresa Leitão (PT-PE), ter feito diversos discursos contra o impeachment de Dilma, de quem foi vice-líder.

— Ele (Lula) tem interesse em trazer Republicanos e PP? Tem. Provavelmente em agosto vai ter que começar a negociar. É óbvio que vai ter que espremer dali e catar daqui e achar um espaço — resumiu Jaques Wagner.

No caso do PP, a costura é mais complexa. O partido deseja ver o deputado André Fufuca (PP-MA), próximo a Lira, no primeiro escalão, mas não há certeza sobre o espaço a ser ocupado.

Até o momento, os governistas resistem em ceder o Desenvolvimento Social, que tem Wellington Dias à frente. O ministério tem orçamento de R$ 273 bilhões, montante superior ao da Saúde e Educação, por exemplo, além de coordenar o Bolsa Família. Auxiliares de Lula admitem que a pasta está nas negociações, mas enxergam com certo ceticismo a entrega ao Centrão de uma das principais bandeiras do governo.

Outro ponto em debate é o impacto negativo caso se concretizem as saídas de três mulheres: Daniela Carneiro, Ana Moser e Rita Serrano. Apesar da perda de representatividade, em um contexto em que os cargos de mais destaque já são dominados por homens, governistas dizem internamente que é necessário aguentar a repercussão negativa em troca de mais conforto no Congresso. Apesar de vitórias na área econômica, com as aprovações do arcabouço fiscal e da Reforma Tributária, o governo sofreu derrotas relevantes, como a desconfiguração da MP dos Ministérios e a derrubada dos decretos de saneamento.

O Globo