A longa história de Wassef no bolsonarismo

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Foto: Daniel Marenco/ Agência O GLOBO

Alvo da Polícia Federal (PF) sob a suspeita de envolvimento com um esquema que teria desviado presentes oficiais recebidos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o advogado Frederick Wassef, que representa o ex-chefe do Executivo em diferentes processos, ganhou projeção em 2019, quando conseguiu que o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendesse todas as investigações feitas com base no compartilhamento de dados bancários sem autorização judicial — o que incluía a investigação sobre um esquema de rachadinha no gabinete do hoje senador Flávio Bolsonaro (PL) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). A decisão foi posteriormente derrubada pelo plenário da Corte.

Em junho de 2020, Fabrício Queiroz — apontado como operador da rachadinha — foi preso em um sítio de propriedade de Wassef, em Atibaia (SP). O paradeiro de Queiroz era desconhecido há quase um ano, e o advogado havia dito anteriormente que não sabia onde estava o ex-assessor de Flávio.

Após a prisão, Wassef negou que estivesse escondendo o ex-assessor de Flávio, mas não explicou o que ele fazia em seu imóvel. Ele era chamado de “Anjo” por Queiroz e seus familiares.

A relação com a família Bolsonaro, porém, começou antes desses episódios, em 2016, quando a candidatura do então deputado federal à Presidência ainda era tratada como um devaneio político. Muito antes de a campanha começar, segundo um assessor do ex-presidente, Wassef aparecia seguidas vezes no gabinete do parlamentar em Brasília dizendo-se “amigo dos maiores PIBs do Brasil” e prometia apresentá-los a Bolsonaro. À medida que a relação foi se estreitando, o advogado passou a atuar como mentor das estratégias jurídicas da família.

Até a ascensão dos Bolsonaro ao Planalto, Wassef estava longe de ser um advogado famoso no país. O marco inicial de sua carreira foi o ano de 1992, data de seu registro na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Seu nome constava em poucos processos judiciais. Em entrevista à revista Época em 2019, Wassef mencionou quatro criminalistas com os quais teria trabalhado. Procurados pela reportagem à época, dois não responderam e os outros negaram qualquer relação profissional com ele.

Em 2020, Wassef foi um dos alvos da operação E$quema S, um desdobramento da Lava-Jato no Rio de Janeiro, que investigou escritórios de advocacia que teriam sido usados para desviar recursos do Sistema S. O advogado foi denunciado pelo Ministério Público por peculato e lavagem de dinheiro e chegou a virar réu. Posteriormente, contudo, o STF anulou partes da investigação e o caso foi arquivado.

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Em novembro de 2021, em meio à pandemia de Covid-19, o advogado foi barrado no Supremo Tribunal Federal (STF) por não ter apresentado comprovante de vacinação. A Corte comunicou, na ocasião, que o documento era exigido a todos que frequentassem o tribunal.

Em fevereiro de 2022, Wassef tornou-se réu pelos crimes de racismo e injúria racial, por decisão da 3ª Vara Criminal de Brasília. Procurado, na época, Wassef negou as acusações e se disse vítima de perseguição e “fraude processual”. A denúncia descreve dois episódios envolvendo Wassef em uma pizzaria em Brasília. Em um deles, ele teria dito a uma funcionária, segundo a denúncia: “Não quero ser atendido por você. Você é negra e tem cara de sonsa e não vai saber anotar meu pedido”. No outro, Wassef teria chamado a funcionária de “macaca”.

Wassef já defendeu publicamente Adriano da Nóbrega, apontado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro como chefe do grupo de matadores de aluguel conhecido como Escritório do Crime e cabeça da milícia de Rio das Pedras, na Zona Oeste da capital fluminense. O advogado afirmou que não havia provas da ligação de Adriano com o grupo paramilitar e questionou as circunstâncias da morte dele, ocorrida em operação policial na Bahia.

No ano passado, Wassef concorreu a deputado federal por São Paulo pelo PL, partido de Bolsonaro, e explorou sua atuação como advogado ao utilizar o “Dr” no nome de urna. A publicação de “estreia” no Instagram, no lançamento da campanha eleitoral, anunciava: “O anjo chegou”. Entretanto, conseguiu apenas 3.628 votos e não foi eleito.

O Globo