Aliados tentam desvincular Bolsonaro de Wassef

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Foto: Cristiano Mariz / Agência O Globo

A participação do advogado Frederick Wassef na “operação de resgate” de um relógio Rolex recebido durante uma viagem oficial à Arábia Saudita causou um “climão” na defesa de Jair Bolsonaro (PL). A divulgação de mensagens que mostram Wassef buscando o relógio em uma loja nos Estados Unidos e o entregando ao ex-ajudante de ordens Mauro Cid desorientou os demais integrantes da defesa do ex-presidente.

Procurado pelo GLOBO, Wassef reiterou a nota divulgada no fim de semana. No comunicado, ele nega que tenha “um papel central em um suposto esquema de vendas de joias”. De acordo com ele, há uma campanha de “fake news e mentiras de todos os tipos”.

Embora não tivesse procuração de Bolsonaro para atuar no inquérito da delegacia da Polícia Federal de Guarulhos, Wassef manifestou-se em nome do ex-presidente sobre o caso em 7 de março. Na ocasião, após vir à tona a retenção do conjunto de diamantes pela Receita Federal, o advogado enviou nota à imprensa afirmando que o então mandatário “agiu dentro da lei” e “declarou oficialmente os bens de caráter personalíssimo recebidos em viagens”.

Na mesma ocasião, o ex-presidente contratou os também advogados Paulo Amado da Cunha Bueno e Daniel Bettamio Tesser. De imediato, em resposta a uma determinação do Tribunal de Contas da União para que Bolsonaro fosse o fiel depositário das joias, a dupla protocolou petição para que os itens ficassem com a própria instituição.

Dias depois da nova manifestação do ministro Augusto Nardes, do TCU, o próprio Cunha Bueno foi entregar os objetos de luxo em uma agência da Caixa, localizado na Asa Sul, região central de Brasília. Ele e o colega não teriam sido avisados, no entanto, que antes de chegar às suas mãos, o relógio teria sido recolhido por Wassef na Pensilvânia e levado por ele até Cid na Sociedade Hípica Paulista, em São Paulo, em 2 de abril.

Ex-secretário de Comunicação do governo Bolsonaro, Fabio Wajngarten também sugeriu desconhecer a “operação resgate”. No Twitter, o advogado, que tem acompanhado a defesa nos depoimentos prestados pelo ex-presidente nos diversos inquéritos em que é investigado, afirmou que diálogos entre ele e Cid divulgados pela PF trataram somente sobre a “entrega voluntária das joias ao TCU”.

Para aliados de Bolsonaro, a recompra do Rolex por Wassef teria sido um esforço pessoal do advogado para tentar se reaproximar do clã e ganhar notoriedade e relevância junto ao ex-presidente. No fim do mês passado, ele também teria ido a um almoço, segundo interlocutores da equipe de Bolsonaro, que reuniu mais de 200 empresários e socialites na capital paulista justamente após insistir junto ao ex-mandatário por um convite.

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Ao longo dessa semana, a defesa oficial de Bolsonaro deverá entrar com um pedido no Supremo Tribunal Federal (STF) para ter acesso à íntegra da investigação sobre o suposto esquema de desvio de joias recebidas em viagens oficiais para o patrimônio privado. Na semana passada, a PF pediu a quebra do sigilo bancário e fiscal dele e da ex-primeira dama Michelle Bolsonaro nesse inquérito.

Também nos próximos dias, os advogados devem estar com o ex-presidente e perguntá-lo sobre todo o passo a passo envolvendo essas e outras joias e itens de valor recebidos por ele ao longo de sua gestão. Em nota, na última sexta-feira, Cunha Bueno e Tesser reiteraram que Bolsonaro “jamais se apropriou ou desviou quaisquer bens públicos”.

O Globo