A última de Quaquá no Rio
Foto: Agência O Globo
Principais antagonistas da corrida eleitoral do ano passado, o PT, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, costuram acordos para as eleições de 2024 em diferentes cidades do Rio. Embora uma aliança formal seja improvável, caciques das duas siglas ouvidos pelo GLOBO já mapearam municípios da Baixada Fluminense e da Região Metropolitana em que há interesses convergentes.
Aliados do governador Cláudio Castro (PL) trabalham por uma aproximação com o prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD). Para isso, defendem que o PL não imponha obstáculos às prováveis candidaturas de Rodrigo Neves (PDT) em Niterói e de Washington Quaquá (PT) em Maricá, ambos aliados de Paes. Castro busca ter caminho livre para concorrer ao Senado ao fim do atual mandato, de preferência com o apoio do atual prefeito do Rio. Em paralelo, o PT mostra abertura a se alinhar com candidatos do PL na Baixada.
Quaquá, vice-presidente nacional do PT e atualmente deputado federal, articula para montar um palanque que reúna PT e PL no Rio em 2026. Nele, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disputaria a reeleição, Cláudio Castro concorreria ao Senado e Eduardo Paes, ao governo fluminense. Embora visto com reticências por outras alas do PT, o plano encontrou adeptos no entorno de Castro.
— O objetivo é resolver 2026 com os acordos nas eleições municipais — afirmou Quaquá, que justifica o plano com o propósito de ampliar a base de Lula no Rio.
O petista quer incluir no projeto eleitoral aliados na Câmara, como os deputados Luciano Vieira (PL-RJ) e Ricardo Abraão (União-RJ), cujos parentes vão disputar prefeituras na Baixada.
Em São João de Meriti, o deputado estadual Léo Vieira, irmão de Luciano, se filiou ao PL em agosto, de olho em 2024. O PT tem sinalizado que não faria oposição aos Vieira. Luciano Vieira foi dos deputados que irritou a bancada bolsonarista ao votar a favor da reforma tributária.
Já em Nilópolis, o atual prefeito, Abraãozinho (PL), deve disputar a reeleição com apoio do primo, Ricardo. Parte da bancada petista defende um gesto a Ricardo. Ele passou seis meses como deputado federal e voltou a ser suplente na Câmara após a deputada Daniela Carneiro ser demitida por Lula do Ministério do Turismo e reassumir o mandato.
No outro lado da Baía de Guanabara, o grupo de Castro busca desencorajar chapas bolsonaristas. O deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ), líder da oposição na Câmara, se lançou na corrida em Niterói. Ele polarizaria com o pedetista Rodrigo Neves. O governador, que já teve atritos com a família de Jordy, defende dentro do PL a priorização de outras disputas, em vez de um embate com o ex-prefeito.
Em Maricá, onde o deputado bolsonarista Filippe Poubel (PL-RJ) deseja concorrer contra Quaquá, o diretório estadual do PL delegou a definição da candidatura a Marcelo Delaroli, prefeito da vizinha Itaboraí. Em 2020, Delaroli se elegeu pelo PL, em aliança com o PT, que indicou seu vice-prefeito, Lourival Casula. Eles se afastaram após a eleição.
A aproximação entre PT e PL ainda tem arestas em colégios eleitorais importantes. Em São Gonçalo, o PL quer reeleger o prefeito, Capitão Nelson, aliado do deputado federal Altineu Côrtes, presidente estadual do partido. O PT lançou o deputado Dimas Gadelha, mirando reeditar a disputa de 2020.
Castro, que vem se reaproximando de Altineu após divergências, articula a nomeação do deputado Douglas Ruas (PL), filho do prefeito de São Gonçalo, no primeiro escalão do governo estadual. O objetivo é acomodá-lo numa pasta com orçamento para obras, mirando 2024.
Ouvido sob reserva, um aliado de Castro diz que o governador quer o apoio de prefeitos, inclusive alinhados ao governo Lula, para a futura empreitada ao Senado. Na capital, a tendência é de aliança velada com Paes, já que o PL insiste em ter candidato, mesmo sem um nome competitivo.
Em um aceno a Paes, Castro vem desmobilizando a candidatura de seu secretário estadual de Saúde, Doutor Luizinho (PP), antes apontado pelo governador como sua preferência na capital. O governador, porém, deseja influenciar na escolha do candidato a vice de Paes, que resiste à ideia.
Acenos do PL
Niterói: Castro trabalha dentro do PL para frear candidatura de Carlos Jordy (PL), num gesto em prol da candidatura de Rodrigo Neves (PDT).
Maricá: Mais alinhado à bancada bolsonarista, Filippe Poubel (PL) deve abrir caminho à articulação da família Delaroli, aliada do PT, de Quaquá.
Acenos do PT
São João de Meriti: Irmão do deputado Luciano Vieira (PL), Léo Vieira se filiou ao partido de Bolsonaro. Contra ele, PT não deve lançar adversário.
Nilópolis: Filiado ao PT e vislumbrando 2024, Brizola Neto (PT) tende a ser escanteado para uma aliança em torno do atual prefeito, Abraãozinho (PL).