Abin avisou que governo do DF ajudaria golpistas

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Foto: Brenno Carvalho

O ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Gonçalves Dias, conhecido como GDias, reconheceu que teria “problemas” logo pela manhã do dia 8 de janeiro. Em mensagem enviada seis horas antes dos ataques às sedes dos Três Poderes, ele manifestou preocupação com as movimentações em Brasília que antecederam os atos golpistas. O texto contradiz a versão do militar, que disse em diferentes ocasiões que não tinha conhecimento dos riscos de investidas violentas naquele dia.

No dia 8 de janeiro, às 8h53m, GDias recebeu uma mensagem no WhatsApp com a lista de ônibus que estavam chegando à capital. O interlocutor era o então comandante da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Saulo Moura Cunha: “Quase 100 ônibus já”, alertou o oficial.

Três minutos depois, GDias respondeu a mensagem: “Bom dia. Vamos ter problemas.”, escreveu o então ministro do GSI.

Em depoimento à Polícia Federal, GDias disse que houve um “apagão” na inteligência do governo e que ele não foi alertado sobre a possibilidade de protestos violentos que culminaram nas invasões. Procurada, a defesa de GDias não quis se manifestar.

O general da reserva seguiu recebendo mensagens e fotos dos atos ao longo do dia. Às 14h45m, os golpistas invadiram o Legislativo. Logo depois, chegaram ao Supremo Tribunal Federal e ao Palácio do Planalto.

O chefe da Abin chegou descrever em mensagem para Gdias os desdobramentos dos atos golpistas. “Estão dentro do congresso”, avisou Saulo, às 14h59m. “GDF abriu as porteiras”, alertou, referindo-se ao governo do Distrito Federal, responsável pela segurança em Brasília.

Na CPI do MST, GDias reiterou o discurso de que não recebeu nenhum relatório da Abin pela via oficial, o Correio Sisbin (Sistema Brasileiro de Inteligência), que estava inativo à época. Mas não mencionou os alertas de Saulo.

As mensagens mostram que Saulo encaminhou para GDias, ainda no dia 7 de janeiro, dez mensagens de alertas sobre a situação em Brasília. Não há registro de qualquer resposta de GDias naquela data.

“Conforme a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), houve aumento do número de fretamentos de ônibus (…). Muitos veículos foram fretados por indivíduos que já tiveram participação em atos violentos nos últimos meses”, dizia um dos informes.

Em 6 de janeiro, o cenário parecia diferente, segundo um informe de Saulo Moura Cunha enviado ao general. Às 8h15m daquele dia, Cunha afirmou a GDias: “Ao que tudo indica, são bravatas. No documento de ontem saiu avaliação sobre esse movimento, é uma tentativa de reavivar a contestação das eleições. Mas não tem ônibus fretados pra Brasília”.

Em outro diálogo, no dia 17 de janeiro, o ex-ministro pediu a Saulo que seu nome fosse retirado de um documento que seria entregue à Comissão de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso com as comunicações de informes da Abin e os destinatários das mensagens. GDias não estava no grupo de WhatsApp que recebeu os alertas da Abin. Mesmo assim, o militar foi informado em seu celular sobre os riscos dos atos. “Pode tirar meu nome?”, perguntou o militar para o então chefe da Abin. “Claro. O senhor não era parte da operação”, escreveu o oficial de inteligência.

O Globo