Aliados querem ‘enterrar’ Bolsonaro no 7 de setembro
Foto: ADRIANO MACHADO/REUTERS
Jair Bolsonaro (PL) já usou o 7 de Setembro para pregar um golpe, fazer campanha e até puxar coro de imbrochável, mas a data tão cara a ele e a seus apoiadores deve passar em branco neste ano. O PL, a assessoria do ex-presidente e deputados bolsonaristas afirmaram que não há nada programado para o próximo Dia da Independência.
O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) afirmou que o 7 de Setembro terá outra conotação com Lula no governo e deixará de ser uma exaltação ao patriotismo, como foi na gestão Bolsonaro.
Ele declarou que não existe clima para realizar um evento paralelo e que sirva como contraponto à presença de Lula no Planalto.
Seria como comemorar um aniversário depois de um velório.
Nikolas Ferreira (PL-MG), deputado federal
Fabio Wajngarten confirmou que não há nada programado. Ele é bastante próximo a Bolsonaro. Foi secretário de Comunicação na gestão dele e o advogado que falou com a imprensa após os depoimentos do ex-presidente à Polícia Federal.
A assessoria do PL também informou que não existem preparativos para um ato em 7 de setembro.
A desistência de realizar um evento também pode ser consequência de um momento desfavorável a Bolsonaro e aos bolsonaristas. O ex-presidente foi punido pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e enfrenta várias investigações da PF.
Ele está inelegível até 2030 e prestou quatro depoimentos à Polícia Federal desde que deixou o Planalto. O último ocorreu em 12 de julho.
Bolsonaro admitiu o desgaste de imagem por responder a inquéritos. “É um constrangimento perante a opinião pública”, disse o ex-presidente numa das saídas da sede da PF após depor.
Outro motivo para não haver clima é o esvaziamento de poder. Antigos aliados, o PP e o Republicanos estão em tratativas para indicar ministros no governo Lula.
Alguns parlamentares que se mantiveram fiéis a Bolsonaro enfrentam problemas com a lei. Daniel Silveira (PTB-RJ) está preso e, na semana passada, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) foi alvo de uma operação da PF.
O ex-presidente transformou o 7 de Setembro em evento patriótico. O verde e o amarelo, cores que ele adotou como seus símbolos, foram enaltecidos, assim como o militarismo.
A data também serviu para inflar o clima de golpe. Em 2021, ele discursou na avenida Paulista, em São Paulo, afirmando que não obedeceria às decisões de Alexandre de Moraes.
E gerou uma crise institucional ao ameaçar e xingar o ministro do STF.
Ou esse ministro se enquadra, ou ele pede para sair. Sai, Alexandre de Moraes. Deixa de ser canalha.
Jair Bolsonaro no 7 de Setembro de 2021
As comemorações do ano passado ocorreram durante a corrida presidencial, quando Bolsonaro aproveitou a data para fazer campanha. Foram duas agendas em um único dia.
Reuniu dezenas de milhares de pessoas em Brasília pela manhã e fez discurso repetindo seus mantras de campanha.
Num dado momento, puxou o coro de imbrochável. Foi acompanhado pelos apoiadores que lotavam a Esplanada dos Ministérios.
Também se aproveitando das comemorações dos 200 anos da Independência do Brasil, foi para o Rio de Janeiro participar de um evento em que pediu votos e que contou com colaboração das Forças Armadas.
O ato de campanha contou com motociata e discurso. Navios de guerra, tiros de canhão a cada hora do Forte de Copacabana e apresentação da Esquadrilha da fumaça fizeram parte do evento.
Mas, pelo menos por enquanto, a um mês da data, o presidente que foi contra o isolamento social durante a pandemia vai ficar em casa.