Alvo da PF hoje dá vergonha até nas moscas
Foto: Reprodução
O deputado estadual bolsonarista Amauri Ribeiro (União Brasil-GO), alvo de uma operação da PF depois de ter dito que deu dinheiro para um acampamento golpista, tomou posse com a mulher no colo, disse que uma vereadora merecia um tiro na cara e é réu por discriminação e preconceito de raça.
O deputado tem 50 anos e começou a carreira na política como vereador. Natural de Trindade (GO), mudou-se ainda criança para Piracanjuba (GO), onde trabalhou como produtor agropecuário. Foi eleito vereador em 2008 e prefeito da cidade em 2012.
Em 2015, enquanto prefeito, ele admitiu ter agredido a filha. Num vídeo publicado, Ribeiro admitiu ter dado um “corretivo” na adolescente de 16 anos — fotos dela com lesões nas costas e na boca circularam nas redes sociais. O Ministério Público de Goiás e a Polícia Civil apuraram o caso, segundo a TV Anhanguera. A reportagem entrou em contato com os dois órgãos hoje para saber o andamento do caso e aguarda retorno.
As fotos são verdadeiras. Minha filha tomou um corretivo e não me arrependo de ter dado esse corretivo. Não é pra isso que criei minhas filhas, não vou perder nenhuma das minhas filhas pro mundo.
Amauri Ribeiro, em vídeo de 2015
No mesmo ano, ele discutiu e quase agrediu um vereador deficiente físico durante sessão na Câmara. Segundo a emissora, a briga começou depois que a base do prefeito foi criticada na Casa durante discussão sobre um projeto de lei. O vídeo mostra o então prefeito saindo de seu lugar e indo em direção ao vereador Reinaldo Celestino e sendo contido. Ribeiro negou que fosse agredir o vereador.
Foi eleito deputado estadual em 2018 com 24,9 mil votos. Na época, ele declarou R$ 420 mil em bens. No ano passado, ele foi reeleito com 35.060 votos e declarou patrimônio de R$ 767,7 mil.
Uma foto de Ribeiro tomando posse na Alego (Assembleia Legislativa de Goiás) com a esposa sentada no seu colo viralizou em 2019.
Era minha esposa, não era nenhuma prostituta. Uma mulher com quem vivo há quase 25 anos e com quem tive três filhas. E outra: é muito comum minha esposa sentar em meu colo em qualquer evento que vou na cidade
Amauri Ribeiro, na ocasião à revista Época.
Ele foi alvo de um protesto de servidoras da Alego em 2019 depois de dizer que a instituição é uma “casa de mulheres” onde até “modelos” estão ali para “servir os deputados”. As declarações foram dadas em entrevista ao jornal “O Popular” em 2019. Questionado pela TV Anhanguera sobre o caso na época, ele disse que não precisa se desculpar e classificou a repercussão como “mimimi”.
É isso que é aquela assembleia. Uma pouca vergonha. Uma putaria. Se você entrar naquela casa, me desculpa o palavreado, vai lá para você ver. Naquela Assembleia tem casa de mulheres, de meninas, de assessoras que ficam por conta de deputado. É brincadeira (…) Tem mulheres que são contratadas, só top, só modelo, que estão ali para servir deputados. Como comissionadas não fazem nada.
Amauri Ribeiro, deputado, em entrevista ao jornal “O Popular” em 2019
O deputado também já disse que uma vereadora merecia “um tiro na cara”. Em agosto de 2021, Ribeiro — à época filiado ao Patriota — fez um discurso em tom intimidador contra a vereadora Luciula do Recanto (PSD-GO), de Goiânia, que atua na proteção dos animais. Ele chegou a dizer que Luciula “merecia um tiro na cara”. À época, a Câmara Municipal de Goiânia repudiou o episódio.
Fico puto quando vejo uma vereadora invadindo a casa de um cidadão, igual a essa vereadora de Goiânia que se diz protetora de animais. Arrebenta o portão da casa de um cidadão, sem mandado, sem ordem judicial, porque ela também não é polícia, nem com ordem ela podia, e invade uma casa. Para mim, merecia um tiro na cara.
Amauri Ribeiro, em 2021, em discurso
Ribeiro virou réu por discriminação e preconceito de raça, na modalidade homofobia, em janeiro deste ano. Ele publicou uma foto de uma mão branca apertando um braço negro, que “veste” uma roupa com as cores do arco-íris — símbolo do movimento LGBTQIA+. O post também traz a frase “na minha família, não”.
Ele é apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Em outubro, pouco antes do segundo turno das eleições, o parlamentar apareceu em um vídeo incentivando bolsonaristas a pegarem em armas e participarem de um golpe caso Lula (PT) vencesse. A assessoria do deputado disse que a gravação estava descontextualizada e que não houve ameaça a alguém ou à democracia.
E deixa eu te falar: se o seu presidente [Lula] ganhar, vai acontecer uma guerra civil no país. E eu sou reservista. Se eu for convocado, eu vou para a rua e vou empunhar uma arma. Deus que te livre de estar do outro lado nessa luta
Amauri Ribeiro, durante ato pró-Bolsonaro
Em junho, Ribeiro disse que ajudou a bancar quem estava no acampamento golpista. “O dinheiro não veio de fora, veio de gente que acredita nessa nação, que defende esse país e que não concorda com esse governo corrupto e bandido”.
Após a repercussão de suas declarações, Ribeiro já havia recuado, afirmando repudiar os atos golpistas de 8 de janeiro. Ele enviou uma petição ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, pedindo para não ser preso.
O advogado Demóstenes Torres, que defende Ribeiro, afirmou que pedirá acesso aos autos que originaram a medida cautelar de busca e apreensão.