Aumento da base de Lula gera pressão por sucessão de Lira

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Foto: Ton Molina/Estadão Conteúdo

A futura entrada de mais partidos do centrão na Esplanada dos Ministérios aumenta a lista de possíveis candidatos para o governo apoiar na sucessão do deputado Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Câmara. Republicanos, União Brasil, MDB, PSD e até o PSB já têm nomes para concorrer ao comando da Casa e começam o cortejo, ainda informal, no Palácio do Planalto.

Lula negocia a indicação de nomes do Republicanos e do PP, partido de Lira, para comandar pastas no governo em troca de apoio no Congresso.

Lira ficará no comando da Câmara até o fim de 2024. Em fevereiro do ano seguinte, uma eleição decidirá quem sucede o deputado alagoano.

Embora ainda falte mais de um ano para a disputa, as campanhas informais já começaram nos corredores da Câmara —as conversas tiveram início com o embarque ainda não oficializado de outras siglas do centrão. Os acenos para conseguir apoio do Poder Executivo também.

O governo tem o desafio de escolher um nome que saia vitorioso na disputa. O vencedor é decisivo para emplacar pautas governistas no Legislativo e dar andamento à agenda do Palácio do Planalto até 2027.

Partidos como o PSD e o MDB, que já reúnem três ministérios cada um na gestão petista, são aliados do governo desde o início do ano. Os líderes das duas bancadas, Antônio Brito (PSD-BA) e Isnaldo Bulhões (MDB-AL), são apontados como pré-candidatos, embora ainda não tenham sido oficializados.

O nome de Brito é visto com simpatia por parte da base governista. Deputados afirmam que ele é um parlamentar com boa articulação em todos os grupos e seria um nome forte para o comando da Casa.

Também se colocam como opção o líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA), o presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP), e o líder do PSB, Felipe Carreras (PE).

Preferido de Lira, Elmar mantinha distância do governo por uma questão local. O União Brasil é o principal opositor do PT na Bahia e o deputado sempre esteve na ponta oposta ao do grupo de Jaques Wagner, líder petista no Senado, e do ministro Rui Costa (Casa Civil).

Com a possibilidade de apoio do governo federal, essa atitude tem mudado. Elmar aumentou a frequência no Palácio do Planalto e saiu da reunião sobre o PAC (Programa de Aceleração ao Crescimento), na última terça (8), elogiando Rui.

Aliados de Elmar relatam que houve um aceno de ministros palacianos ao seu nome, uma vez que ele tem a bênção do atual do presidente da Câmara. Mas ponderam que a escolha vai depender do nome que o governo vai apoiar no Senado — dificilmente as duas presidências reúnem políticos do mesmo partido.

Isso porque o senador Davi Alcolumbre (União-AP) quer suceder o atual presidente, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Alcolumbre é um aliado de primeira hora de Lula e responsável por indicar dois ministros do Executivo.

Com a eventual entrada do Republicanos, o presidente da legenda, Marcos Pereira, também começa a ser uma opção. Ele foi aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e, desde a vitória de Lula, tem afirmado que não integrará a base aliada do governo na Câmara. No entanto, não se opõe à entrada do deputado Silvio Costa Filho (PE) no governo, que mira o Ministério do Esporte.

Em meio às negociações, aliados de Pereira e interlocutores de Lula citam os pontos favoráveis a um possível apoio a ele na sucessão à Câmara: não ter uma relação tão próxima a Lira e ser bispo licenciado da Igreja Universal —o que poderia ampliar o apoio a Lula do segmento evangélico, sempre mais próximo de Bolsonaro.

Integrantes da bancada do Republicanos ainda lembram um episódio de 2019, quando Pereira foi contrário à tentativa de transferência de Lula da Superintendência da Polícia Federal no Paraná para a Penitenciária 2 de Tremembé, em São Paulo.

Ao UOL, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), afirmou que ainda é cedo para escolher um candidato, mas garantiu que encontrará um nome para representar o Executivo. Ele negou que a entrada de mais dois partidos divida o governo e disse que as negociações ficam “ainda melhores”.

No Palácio do Planalto, há uma avaliação de que não é bom negócio ainda tomar qualquer partido. Embora o Congresso já fervilhe com articulações, o governo diz que indicar um nome agora atrapalharia as já complicadas negociações na Câmara.

Entre os governistas, há dois pontos principais: o PT não deverá lançar nome próprio mais uma vez e, diferentemente do que ocorreu com a reeleição de Lira neste ano, será difícil arrumar o consenso em torno de um nome entre os apoiadores.

No PT, tentar cacifar um candidato próprio só geraria mais desavença em torno do governo.

Isso mostra um entendimento melhor da gestão na relação com o Congresso atual, em contraponto aos primeiros mandatos de Lula, quando o partido sempre lançou um nome.

A articulação do Planalto já ouve de aliados que os partidos da base, como PSB, PSOL e mesmo MDB, não concordam com uma indicação única, seja ela qual for. A veiculação do nome de Carreras, único de centro-esquerda a circular como pretendente até então, já indica isso.

Uol