Bolsonarismo divulga que Bolsonaro foi preso para testar militância

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Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

A possibilidade de Jair Bolsonaro (PL) ser preso devido às investigações feitas pela CPMI do 8 de janeiro ou pela negociação internacional de joias do acervo da Presidência da República motivou, nesta semana, uma enxurrada de notícias falsas que seguem uma estratégia clara: promover a ideia de que o ex-presidente é vítima de perseguição e precisa ser acolhido pelo povo.
Até a publicação deste texto, não era verdade que uma multidão de bolsonaristas se aglomerava em frente à casa do ex-presidente para evitar que ele fosse detido. Também era falsa a existência de um acampamento no local para evitar que o próprio Jair se entregasse, caso o Supremo Tribunal Federal (STF) emitisse uma ordem de prisão contra ele.
No primeiro caso, o vídeo que viralizou nas redes sociais e aplicativos de mensagem não passava de uma sátira (mal-entendida por muitos). No segundo, tratava-se de uma gravação de outubro de 2022, que mostrava uma série de imagens da eleição daquele ano sem qualquer conexão com as investigações do momento.
Engana-se, no entanto, quem acredita que as duas notícias falsas foram plantadas de forma desconexa ou em vão. Ao se popularizarem nas bolhas bolsonaristas, as duas informações servem, na verdade, como balões de ensaio da extrema-direita. Buscam não só medir o tamanho de uma possível adesão à ideia de cercar o ex-presidente no momento de sua eventual prisão, como também impulsionar essa mesma ideia. Pode ser que já seja a hora de dar esse passo e realmente montar tendas em frente à casa de Jair.
Também se enganam aqueles que acham que essa estratégia é nova ou exclusiva do bolsonarismo. Em 6 de abril de 2018, dois dias antes de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se entregar à Polícia Federal devido à Operação Lava-Jato, os petistas diziam abertamente que queriam que Lula fosse “levado (à prisão) cercado por apoiadores”.
À Folha, um integrante do partido chegou a explicar em detalhes a lógica da sigla: se antes a foto do encarceramento de Lula era importante para a Lava-Jato (uma espécie de troféu), agora ela era imprescindível para o PT. Uma demonstração de força. E a foto de Lula nos braços de uma multidão que vestia vermelho e se reunia em São Bernardo do Campo, no interior de São Paulo, ganhou as manchetes e circulou o mundo. Atingiu seu objetivo.
O bolsonarismo agora quer preparar e fazer o mesmo.

Enquanto observamos os balões de ensaio, é preciso também acompanhar as informações falsas de cunho jurídico e legal que surgem no horizonte e têm Bolsonaro como foco.
Em grupos de WhatsApp monitorados de forma anonimizada pela Palver, encontrei nesta semana diversas postagens que tratavam de uma suposta “perseguição implacável” ao ex-presidente. Outras tantas reclamavam de o Brasil já ter virado uma Venezuela, em referência ao tratamento legal supostamente enviesado dado pela Justiça a opositores do governo federal.
E aqui, vale uma pausa. Qualquer comparação dessas narrativas com as produzidas pelo trumpismo não é mera coincidência. É estratégia. Nos Estados Unidos, os sucessivos indiciamentos do ex-presidente Donald Trump têm sido tratados como uma “caça às bruxas”. E a sugestão de que os EUA têm um sistema judicial parcial, tão parcial quanto o da Venezuela, é narrativa amplificada por nada menos do que a advogada do republicano. O bolsonarismo obviamente vê a popularização em torno dessas posições por lá e busca fazer o mesmo aqui.
Mas vale atentar para o fato de que, ao lutar para estabelecer a narrativa da perseguição, os apoiadores de Jair têm semeado dados errados que são sumamente fáceis de serem verificados pelo cidadão comum.
Circula nas redes, por exemplo, a alegação de que o ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou a apreensão do passaporte e do porte de armas de Bolsonaro, mas a notícia é de maio e não tem relação alguma com as apurações vigentes neste momento. Com alguns segundos de busca online, a narrativa é desmontada. Só não faz quem não quer.
Que Jair Bolsonaro está “sob pressão”, não há dúvida. Que os próximos dias podem ser definitivos para sua carreira, também não há dúvida. Que fique claro que será necessário cuidado extra para navegar com imparcialidade e justiça pela enxurrada de notícias que virá pela frente sobre sua situação legal. Nem bolsonarista, nem anti-bolsonarista. Não tire seus olhos do que importa: os fatos.

Uol