Bolsonarismo retoma controle da CPI do MST

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Foto: Brenno Carvalho/Agência O Globo

Reflexo do adiamento da reforma ministerial prometida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a oposição voltará a ter maioria na CPI que investiga o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. Uma articulação capitaneada por PP e Republicanos, siglas do Centrão que negociam há mais de um mês a indicação de nomes para Esplanada, tem promovido substituições de deputados no colegiado, o que fará com que os adversários do Palácio do Planalto passem a ocupar 15 cadeiras na comissão, contra 9 da base. O movimento ocorre a uma semana da apresentação do relatório final, que deverá pedir indiciamento de pelo menos 15 pessoas, entre elas aliados de Lula.

Relator da CPI, Ricardo Salles (PL-SP) planeja ler seu parecer na próxima segunda-feira. O GLOBO apurou que ele deverá pedir a responsabilização criminal do deputado federal petista Valmir Assunção (BA) e de dois assessores do parlamentar. Apontados como líderes de um acampamento do MST na cidade baiana de São João, eles são suspeitos de terem cometido abusos contra outros participantes do movimento. Também deve constar na relação de pedidos de indiciamento o líder da Frente Nacional de Lutas Campo e Cidade (FNL), José Rainha, personagem historicamente ligado ao presidente da República. Salles disse a aliados que não descarta incluir em seu parecer o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da presidência general Gonçalves Dias, o GDias, que prestou depoimento à CPI e foi acusado por deputados de ter mentido.

Oposição X Base na CPI do MST — Foto: Editoria de Arte

O relatório deverá ser submetido ao colegiado num cenário favorável à oposição. Nas últimas semanas, PP, Republicanos, Patriota e PL fizeram mudanças nas cadeiras que controlam na CPI. Como já havia feito no início dos trabalhos da comissão, agora o PP, sigla do presidente da Câmara, Arthur Lira, cedeu espaços a nomes do PL, legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro. O Republicanos retirou dois deputados afinados ao bolsonarismo, mas não os substitui por governistas, como queria o Planalto. O União Brasil, embora comande três ministérios, também ensaia um movimento que prejudica o governo: escalar os suplentes na comissão Coronel Assis (MT) e Coronel Ulysses (AC), simpáticos a Bolsonaro, para votar no lugar dos titulares, Damião Feliciano (PB) e Gaguim (TO), mais afeitos a Lula. Além deles, Patriota e PL integram a articulação de dança das cadeiras para garantir maioria oposicionista.

O bolsonarista Coronel Meira, do PL-PE, é um dos que deverão retornar como suplente.

— Eu estava na vaga do PP, mas tive que sair. Agora, estou no aguardo para voltar oficialmente amanhã, como nos prometeram — disse.

O cenário negativo para o Planalto pode mudar, entretanto, com a volta de Lula ao Brasil, ontem, depois de uma viagem à África. Caso ela destrave a reforma e nomeie os indicados de PP e Republicanos para postos na Esplanada, a tendência é que os dois partidos voltem a trabalhar a favor do petista na CPI do MST. Pelo Republicanos, o deputado Silvio Costa (PE) deverá ficar com uma pasta de primeiro escalão. Já André Fufuca (MA) é o quadro do PP que deverá ser nomeado ministro em breve. Não está definido, porém, com quais cargos eles ficarão.

A CPI do MST foi instalada em maio, menos de um mês depois de o Movimento dos Sem Terra ter promovido uma série de invasões. As investidas ficaram conhecidas como Abril Vermelho. Dadas as relações entre PT e o MST, que mantêm uma proximidade de décadas, o Palácio do Planalto temia que a comissão avançasse em direção a integrantes do governo, o que acabou ocorrendo. O ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, prestou depoimento ao colegiado. A convocação de Rui Costa (Casa Civil) também chegou a ser aprovada, mas acabou anulada por Arthur Lira, num movimento para agradar Lula e o Planalto.

O Globo