Bolsonaristas tentam impedir Republicanos de aderir a Lula

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Foto: Reprodução

Apesar de o presidente do Republicanos, deputado federal Marcos Pereira (SP), reiterar que o partido continuará independente, a negociação para assumir um ministério no governo Lula já provoca fissuras internas. Na mais recente delas, o principal nome da legenda, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ameaça deixar a sigla caso seus correligionários ingressem na base do petista. Diante da turbulência, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz questão de se reunir com Pereira antes de anunciar as mudanças na Esplanada que devem sacramentar o ingresso dos Republicanos no primeiro escalão do Executivo federal.

A avaliação tanto no Palácio do Planalto quanto no partido, no entanto, é que a oposição de parte da legenda não vai alterar o embarque do Republicanos na gestão de Lula. Além disso, aliados de Tarcísio, que foi ministro de Jair Bolsonaro, acreditam que a ameaça do governador não vai se concretizar.

Anteontem, ele disse ser contrário à adesão a Lula e deixou aberta a possibilidade de sair do Republicanos.

— É uma coisa que eu vou avaliar com o partido — afirmou, ao ser perguntado sobre as chances de deixar a sigla, em evento no Palácio dos Bandeirantes. — Eu sou contra. Para mim, eu não gostaria de ver o meu partido fazendo parte da base do governo.

A reprovação pública é o estopim de uma crise que não começou agora. Desde o início de sua gestão, Tarcísio mantém uma relação conturbada com Marcos Pereira, presidente da legenda. Na terça-feira, o Republicanos fez uma sinalização na direção de Lula ao desligar dois deputados bolsonaristas da CPI do MST, esvaziando o colegiado. Interlocutores de Tarcísio dizem que a atitude irritou o governador, que pediu uma reunião com Pereira. O dirigente está no exterior, mas deve voltar neste fim de semana.

Pessoas do entorno de Tarcísio ponderam que, numa eventual desfiliação do Republicanos, ele teria poucas opções. O PP, por exemplo, também negocia a entrada no governo Lula, e o PSD, de seu secretário de Governo, Gilberto Kassab, ocupa três ministérios. Uma opção seria migrar para o PL, mesma sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro. Porém, segundo interlocutores, Tarcísio se filiou ao Republicanos para evitar a relação com Valdemar Costa Neto, presidente do partido. Ontem, o cacique disse que não teve qualquer conversa sobre uma eventual filiação do governador ao PL.

Um aliado descrente da possibilidade de saída de Tarcísio avalia que a declaração do governador foi uma tentativa de fazer o Republicanos prestigiar mais a sua ala bolsonarista. O GLOBO apurou que o entorno de Tarcísio espera que Marcos Pereira reafirme publicamente que o partido se manterá independente mesmo após a reforma ministerial que irá beneficiá-lo.

A ameaça, porém, não parou no Executivo paulista. Também apoiador de Bolsonaro , o presidente da CPI do MST, deputado Luciano Zucco (Republicanos-RS), critica a aproximação de seu partido com o governo Lula e levanta a possibilidade de migrar para outra sigla:

— Eu não acredito que o Republicanos vai fazer parte do governo. Caso o faça, vou entrar em contato com a legenda. Realmente não está na minha vontade estar num partido alicerçado com o governo Lula.

Aliados de Tarcísio dizem que ele e Marcos Pereira vivem em pé de guerra desde o começo do governo. Há relatos de telefonemas tensos, com gritos, entre o governador e o presidente do Republicanos.

O principal incômodo do dirigente partidário sempre foi com uma suposta falta de espaço na gestão estadual. Hoje, a legenda controla três secretarias de orçamentos pouco expressivos: Turismo (Roberto de Lucena), Esportes (Helena Reis) e Políticas para a Mulher (Sonaira Fernandes). A terceira, por exemplo, não tem um caixa próprio, como mostrou O GLOBO.

Há uma discrepância quando se compara ao PSD, que tem a vice e três secretarias: Governo (Gilberto Kassab), Saúde (Eleuses Paiva) e Projetos Estratégicos (Guilherme Afif Domingos).

Além da composição do governo, a escolha da liderança na Assembleia Legislativa foi motivo de desgaste entre os dois. O combinado de Tarcísio com o presidente do Republicanos era escolher o deputado Altair Moraes, ligado ao núcleo bolsonarista e evangélico. Mas o governador optou por Jorge Wilson, conhecido como Xerife do Consumidor, em decisão que pegou de surpresa toda a bancada. Jorge Wilson é tido como um nome mais moderado e sem relação com a Igreja Universal, vinculada ao partido.

Outra reclamação, que não se restringe a Marcos Pereira, mas a todo o núcleo religioso do Republicanos, é de que Tarcísio não atenderia aos interesses dos evangélicos em São Paulo.

A vaga aberta para o Tribunal de Contas do Estado (TCE) é outro ponto de atrito entre governador e seu partido. Correligionários esperavam que o deputado estadual Gilmaci Santos (Republicanos) fosse indicado à vaga, mas o governador deve considerar o nome indicado pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto, o deputado federal Marco Aurélio Bertaiolli (PSD) — o que irritou alguns aliados.

Desde o mês passado, Tarcísio e Pereira viviam um período amistoso graças ao vídeo que o governador gravou ao lado do presidente do Republicanos em apoio à Reforma Tributária. O chefe do Executivo paulista vinha sofrendo pressão da base bolsonarista para se posicionar contra a proposta.

Ao GLOBO, o líder do governo na Alesp diz ter recebido garantia da permanência de Tarcísio no partido.

— Depois das notícias de ontem (anteontem), eu conversei com o governador e ele me disse que se sente bem no Republicanos, se sente em casa — afirmou Jorge Wilson. — Ele não sairá do partido.

O Globo