Bolsonaro começou a surrupiar jóias em 2019

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Foto: Lula Marques/Agência Brasil

O esquema de compra de vendas de presentes recebidos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) começou, pelo menos, em junho de 2022 e continuou após o término do mandato, de acordo com a Polícia Federal (PF). Um dos conjuntos comercializado, no entanto, já havia sido recebido em 2019.

Confira a seguir uma linha do tempo do recebimento do presente à necessidade de recompra:

Bolsonaro recebe um conjunto de joias durante visita oficial da Arábia Saudita. Batizado pela PF de Kit Ouro Branco, ele era composto pelos seguintes itens: um anel, abotoaduras, um rosário islâmico (“masbaha”) e um relógio da marca Rolex.

Também durante visita à Arábia Saudita, o então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, recebe dois conjuntos de joias. Um deles, de joias femininas, foi retido pela Receita Federal quando ele voltou ao Brasil, e permaneceu apreendido até o fim do governo Bolsonaro, apesar de tentativas de liberação.

Albuquerque, contudo, conseguiu entrar com o segundo conjunto, de joias masculinas, e entregou ele a Bolsonaro. A PF chamou o conjunto de Kit Ouro Rose, e ele era formado por itens da marca Chopard, como uma caneta, um anel, um par de abotoaduras, um rosário árabe (‘masbaha’) e um relógio.

De acordo com a PF, há “fortes indícios” de Bolsonaro recebeu um relógio Patek Philippe durante viagem realizada neste mês ao Bahrein. O então ajudante de ordens Mauro Cid, que estava na viagem, encaminhou para Bolsonaro um certificado de origem do relógio.

Na mesma viagem, Bolsonaro também teria recebido esculturas representando um barco e uma árvore.

Após acompanhar Bolsonaro em viagem aos Estados Unidos, Cid fica no país e segue para a Pensilvânia, onde vende dois relógios: o Rolex, do Kit Ouro Branco, Patek Philippe. Também há indícios de que ele teria vendido o restante dos itens do Kit Ouro Branco em uma loja em Miami.

No dia 19, Cid tira uma foto dos itens do “Kit Ouro Branco”. As informações do arquivo indicam que a foto foi tirada na sua casa. No dia 30, penúltimo dia do seu governo, Bolsonaro viaja para Orlando, na Flórida, e Cid o acompanha.

Após chegar aos Estados Unidos, Cid conversa com diversas pessoas para enviar uma mala para a cidade de Doral, a cerca de 200km, para entregá-la ao seu pai, o general da reserva Mauro César Lourena Cid.

Cid e o seu pai tentam vender as esculturas do barco e da árvore, mas não conseguem. Em uma conversa, o militar afirma que não conseguiu porque as peças não são inteiramente de ouro.

— Aquelas duas peças que eu trouxe do Brasil: aquele navio e aquela árvore, elas não são de ouro. Elas têm partes de ouro, mas não são todas de ouro (…) Então eu não estou conseguindo vender — afirmou, em áudio transcrito pela PF.

O chamado Kit Ouro Rose é colocado à venda em um site de leilão dos Estados Unidos, mas não é comprado.

O jornal O Estado de S. Paulo revelou a existência dos dois conjuntos trazidos ao Brasil por Bento Albuquerque. O Tribunal de Contas da União (TCU) manda Bolsonaro devolver os itens. Cid e outros aliados de Bolsonaro, como o advogado Frederick Wassef, se organizam para recomprar os presentes que haviam sido vendidos e possibilitar a devolução.

O Globo