Bolsonaro pressionou presidente da Petrobras durante eleição
Foto: Arte Metrópoles
Jair Bolsonaro teve uma reunião secreta com o então presidente da Petrobras, Caio Mário Paes de Andrade, dois dias antes de a empresa anunciar a primeira redução no preço da gasolina em 2022. O encontro não aparece nas agendas públicas da Presidência e da Petrobras. Procurado, Andrade negou ter discutido a política de preços com Bolsonaro.
A agenda confidencial da Presidência foi obtida pela coluna nos e-mails de ex-auxiliares de Bolsonaro e indica que a reunião com Andrade aconteceu no dia 17 de julho de 2022, um domingo, na área da piscina do Palácio da Alvorada, entre 8h50 e 9h40.
A Petrobras comunicou a redução do preço da gasolina nas refinarias dois dias depois, em 19 de julho. A queda foi de R$ 0,20 por litro e configurou a primeira redução da gestão de Andrade, que havia assumido o chefia da estatal em 28 de junho. Ele foi o quinto presidente da Petrobras durante o governo anterior.
Na época da reunião secreta, Bolsonaro estava em pré-campanha como candidato à reeleição e vinha reclamando dos preços dos combustíveis, a fim de pressionar a Petrobras a não fazer novos reajustes. Em 5 de maio, Bolsonaro disse, aos gritos, que o lucro da estatal era um “estupro” e que a companhia não podia mais aumentar os preços.
O tom mudou após a redução do dia 19 de julho. Bolsonaro comemorou, por meio das redes sociais, o anúncio da Petrobras naquela data. “Brevemente o Brasil terá uma das ‘gasolina’ mais barata do mundo”, escreveu.
No dia 24 daquele mês, o PL organizou a convenção que confirmou Bolsonaro como candidato à Presidência. Em seu discurso, Bolsonaro citou o preço dos combustíveis três vezes. Ele culpou a inflação pela alta nos valores e agradeceu ao presidente da Câmara, Arthur Lira, pela aprovação de “leis que vieram a abaixar o preço dos combustíveis”.
Hoje, Andrade trabalha como secretário de Gestão e Governo Digital do Estado de São Paulo. Tarcísio de Freitas, ex-ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, é o atual governador paulista.
Procurado pela coluna, Andrade confirmou a reunião fora da agenda, mas disse que não falou sobre a política de preços da Petrobras com Bolsonaro. “Justiça seja feita, o presidente nunca me pediu nada nesse sentido”, afirmou.
“Descobri um tumor logo que entrei na Petrobras. Comecei a me preparar para o tratamento, mas tinha dúvidas sobre anunciar ou não, sobre pedir licença ou seguir em frente. As discussões que tive com o presidente foram todas em torno disso. Era um momento delicado e importante da vida nacional. Resolvi enfrentar e assumi publicamente. Eu trabalhei enquanto fazia o tratamento. E a conversa, naquele momento, foi em torno disso”, declarou.
Em 15 de setembro, o colunista Igor Gadelha, do Metrópoles, informou sobre o tratamento de Andrade. O presidente da Petrobras havia disparado e-mail aos servidores para falar pela primeira vez sobre a doença. Andrade afirmou, na mensagem, que estava iniciando o tratamento de saúde, mas que continuaria trabalhando normalmente.