Bolsonaro tentou cassar cidadania dos nordestinos

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Eduardo Guimarães

O ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques e o então ministro da Justiça Anderson Torres implementaram bloqueios em rodovias onde Lula havia ido bem no primeiro turno para impedir que seus eleitores mais pobres– ou seja, que dependessem de transporte público — votassem no segundo turno

632 ônibus foram fiscalizados no Sul do país, 571 foram fiscalizados no Sudeste, 893 foram fiscalizados no Centro-Oeste, 310 foram fiscalizados no Norte e 2.185 (!!!) foram fiscalizados no Nordeste, região bem menos populosa que o Sudeste, que teve 1/4 das operações que ocorrerram no Nordeste.

A Polícia Federal acha que Silvinei e Torres tentaram barrar eleitores de Lula por ordem de Jair Bolsonaro, o que reforça a tese de que todas as declarações xenófobas e preconceituosas que ele proferiu contra o Nordeste não foram à toa.

Algumas máximas de Bolsonaro sobre o povo do Nordeste:

“Lula venceu em 9 dos 10 estados com maior taxa de analfabetismo. Você sabe quais são esses estados? No nosso Nordeste (…) Há falta de cultura”.

“Dentre os governadores de ‘paraíba’, o pior é o do Maranhão. Não tem que ter nada com esse cara”

Governadores DE “paraíba”?! A Paraíba tem mais de um governador? Não, ele se referia a todos os governadores do Nordeste. TODOS! E paraíba é como a elite fluminense chama os nordestinos; em São Paulo, é “baiano”.

O ex-presidente e seus aliados e seguidores veem o Nordeste como inimigo. Haja vista o que fez um de seus maiores bajuladores, o governador de Minas, Romeu Zema, que quer formar uma aliança dos Estados do “Sul Maravilha” contra o Nordeste.

Zema disse, recentemente, que a região era comparável a “vaquinhas que produzem pouco” e em troca recebem “tratamento bom”, enquanto o Sul e o Sudeste seriam as regiões que “produzem muito” e não têm tal “tratamento”. Disse isso sem informar quem dá “tratamentos” diferenciados às regiões.

A direita odeia o Nordeste há muito tempo. Em 2010, 2014 e no ano passado a xenofobia do Sul, do Sudeste e do Centro-Oeste contra nordestinos explodiu na internet, acusando-os de serem “culpados” pela eleição de Dilma e Lula. Em 2018, mesmo com a derrota de Haddad para Bolsonaro, os ataques apareceram, mas em menor intensidade.

Por isso, Bolsonaro e seus capangas decidiram impedir que os nordestinos pobres votassem colocando um contingente da PRF nas estradas muito maior do que o padrão adotado no resto do país com a intenção declarada de anular a vontade eleitoral do povo do Nordeste.

Bolsonaro governava com mão de ferro. Nada acontecia sem que ele soubesse e/ou mandasse. Anderson Torres e Silvinei Vasques só cumpriram ordens ao tentarem impedir eleitores de Lula de irem votar no segundo turno da eleição de 2022. E só não conseguiram porque Alexandre de Moraes ameaçou prender o então chefe da PRF.

Bolsonaro simplesmente fez a mesma coisa que a ditadura que ele exalta fazia. A ditadura militar achava que o povo brasileiro não tinha “capacidade” para votar e, assim, proibiu que votasse para presidente, governador e prefeito de capitais durante 1/4 de século.

O plano Torres-Silvinei funcionou, em alguma medida. Bolsonaro teve votação bem maior no Nordeste, no segundo turno. Resta à Justiça impedir que ele fique impune, do contrário haverá muitos outros “Bolsonaros” tentando melar eleições neste país. Em todos os níveis da administração pública e no país inteiro.

Redação