Centrão precisa mais de Lula que Lula do Centrão

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Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Não se faz o que Lula está fazendo com o Centrão. Como um governo tão inclusivo, a ponto de ter incluído Cristiano Zanin no Supremo Tribunal Federal, retarda a inclusão do Centrão?

É falta de piedade. O Centrão depende para sobreviver de cargos no governo, muitos cargos, e da liberação de emendas ao Orçamento. Diz-se que a liberação corre solta. Se corre, não basta.

No próximo ano teremos eleições municipais. Serão milhares de cargos em disputa. Quem não encontra abrigo no governo federal concorre em desvantagem. É o que ensina a história.

Antigamente existia o voto de opinião. Candidatos se elegiam defendendo suas opiniões sobre qualquer coisa. Era o voto ideológico. Hoje, poucos se elegem assim. Política virou negócio.

O Centrão nasceu na Assembleia Nacional Constituinte de 1988. Nunca chegou ao Poder com um candidato próprio. Desistiu de ter um. Alia-se a quem possa chegar. É assim desde sempre.

Não discrimina, porém. Aliou-se à direita (Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique Cardoso duas vezes). Aliou-se quatro vezes à esquerda (Lula e Dilma, embora tenha derrubado Dilma).

De novo aliou-se à direita (Michel Temer, para acabar com a Lava-Jato). E, por último, à extrema-direita. O Centrão gosta de golpe, é fato, mas prefere jogar dentro das quatro linhas da Constituição.

Mal Bolsonaro deu as costas, ou melhor: mal o Brasil deu as costas a Bolsonaro, o Centrão voltou-se para Lula, e à falta de votos no Congresso, Lula voltou-se para o Centrão.

Há um novo produto na praça: o Centrão de oposição ao governo, mas sensível aos apelos do governo. Oposição, sim, mas defensor intransigente “dos superiores interesses nacionais”

É essa posição (não confunda com oposição) que faz o Centrão aprovar projetos do governo, e uma vez que aprova, quer ser recompensado. Lula já entendeu, mas protela protela…

Pura maldade. O Centrão está com um pé na UTI. Porá os dois se Lula continuar viajando sem anunciar as prometidas mudanças no governo. Dizem que elas começarão nesta semana. A ver.

Dizem que os primeiros nomes do Centrão a assumirem ministérios serão os deputados federais André Fufuca, do PP do Maranhão, e Silvio Costa Filho, do Republicanos de Pernambuco.

O PP de Arthur Lira (AL), presidente da Câmara dos Deputados, e do senador Ciro Nogueira (PI), ex-chefe da Casa Civil do governo Bolsonaro? Exatamente. Que é que tem?

Republicanos, o partido do governador bolsonarista de São Paulo, Tarcísio de Freitas? Esse mesmo. Bolsonaro brigou com Tarcísio por causa da reforma tributária, mas os dois fizeram as pazes.

Mas, e se Lula resolver adiar outra vez a entrega de prebendas ao Centrão? Ele é bem capaz disso. Para quem já sofreu tanto na vida, fazer os outros sofrerem um pouquinho parece coisa natural.

Alguns líderes do Centrão somatizam os atrasos. Um está internado em um hospital de Brasília com dor na coluna. O outro espera ficar sozinho na sua sala para então andar capengando.

O PL de Valdemar da Costa Neto, partido de Bolsonaro, está cada vez mais impaciente. Tem votado ajudando o governo como pode, mas há limites para tudo. Os que são contra ajudar, reclamam.

O pastor evangélico e deputado bolsonarista Marco Feliciano (SP), por exemplo, está irritado. Escreveu em um grupo de WhatsApp:

“Precisamos de uma vez por toda saber o que, como partido, somos! Fica confuso ter que olhar orientação de partido e oposição!! PL é ou não oposição? A maioria não é oposição?”

É mais não, Feliciano. Tudo dependerá do valor das prebendas. Não esqueça que nas eleições presidenciais de 2002, em troca de 6 milhões de reais, o então partido de Valdemar apoiou Lula.

Como é, Lula? Ou dá ou desce.

Metrópoles