Cid, Do Val e Zambelli levam Bolsonaro à cadeia

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Foto: Lula Marques/EBC

Três frentes de investigações da Polícia Federal relacionadas à tentativa de golpe vão colocando Jair Bolsonaro em uma situação cada vez mais incômoda. Em uma delas, o foco é um relato do senador Marcos do Val, segundo o qual, em uma reunião com a presença do capitão e do ex-deputado Daniel Silveira, teria se discutido a possibilidade de gravar o ministro do STF e presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, falando alguma impropriedade que permitisse colocá-lo sob suspeição e, por consequência, ajudar a melar a vitória de Lula. Outra linha de apuração tem como foco o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente da República. No celular deste que era um dos auxiliares mais próximos de Bolsonaro havia mensagens e documentos que revelaram um roteiro para anular o resultado das eleições. Na última quarta, 2, operações de busca e apreensão da PF em endereços do hacker Walter Delgatti Neto e da deputada Carla Zambelli representaram o início da tentativa de elucidar uma terceira e mais cabeluda suspeita de conspiração envolvendo diretamente o ex-mandatário. Assim como ocorreu nos episódios do relato do senador Do Val e da descoberta do conteúdo do celular de Mauro Cid, o caso em questão foi revelado por reportagens de VEJA. Em agosto do ano passado, numa articulação feita por Zambelli, o hacker famoso pela invasão de autoridades no episódio que ficou conhecido como Vaza-Jato encontrou-se com Bolsonaro no Palácio da Alvorada. A pauta foi uma das obsessões do ex-­presidente: a suposta fragilidade das urnas eletrônicas. Delgatti saiu de lá disposto a colocar sua expertise em fraudes cibernéticas a serviço da campanha à reeleição, bancado financeiramente por Zambelli. Na sequência, participou de reuniões sobre o assunto no Ministério da Defesa (encampando o discurso defendido por alguns militares de que as urnas continham um código malicioso capaz de migrar votos de Bolsonaro para Lula), tentou invadir a intranet do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro e realizou várias ações tendo como alvo o ministro Alexandre de Moraes.

Nessa linha, Delgatti chegou a emitir um falso mandado de prisão contra o juiz no sistema do Conselho Nacional de Justiça e se esforçou bastante para obter sucesso na empreitada de tentar desmoralizá-lo, mas acabou vendo frustradas as ações destinadas a invadir o correio eletrônico do ministro e de oferecer propina a um funcionário de uma telefônica para conseguir acessar o celular de Moraes. Em conversa gravada pela reportagem de VEJA, o hacker disse que, a pedido de Bolsonaro, estaria disposto ainda a assumir a autoria de um grampo capaz de comprometer o ministro. Em troca, ainda segundo o relato de Delgatti ao jornalista Reynaldo Turollo Jr., o então presidente teria lhe prometido o “céu”. Uma hipótese hoje ventilada nos bastidores é que o tal grampo seria obtido pelo senador Marcos do Val para depois ser divulgado pelo hacker. A mais recente ação da PF busca esclarecer o que há de verdade nesse enredo rocambolesco. Em seu despacho autorizando a busca e apreensão nos endereços de Zambelli e Delgatti, Alexandre de Moraes cita VEJA para embasar as suspeitas (uma das reportagens sobre o assunto comprovou com fotos a visita do hacker ao Alvorada). A repercussão do caso colocou a deputada de vez na lista de parlamentares favoritos à cassação (ela admite ter feito pagamentos a Walter Delgatti Neto, mas nega relação com invasão a sistema do CNJ e descredibilização das urnas).

O ex-presidente vem tentando se afastar como pode das três suspeitas. No episódio Marcos do Val, disse que tomou conhecimento da ideia de grampear o ministro Moraes, mas a classificou como “loucura”. Sobre o conteúdo do celular de Mauro Cid, os advogados do capitão tentaram minimizar os achados, alegando que o telefone serviu várias vezes como “caixa de correspondência que registrava as mais diversas lamentações”. Até quinta 3, Bolsonaro permanecia em silêncio sobre a terceira frente de investigação aberta pela PF para apurar seu envolvimento em uma tentativa de golpe. O entorno do presidente deve explorar o perfil do hacker para tentar desacreditar a história, classificando-o como mitômano e usuário confesso de medicamentos controlados. Preso durante a operação da PF, ele está disposto a fazer uma delação premiada, na qual promete entregar provas de suas conversas comprometedoras com Bolsonaro. Será a chance para descobrir quem é o verdadeiro maluco dessa história.

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