Delação vai blindar hacker contra vinganças

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Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo/

Diante do aval da Advocacia do Senado para que a Comissão Parlamentar de Inquérito do 8 de Janeiro firme delações premiadas, parlamentares governistas afirmam que devem oferecer a possibilidade de acordo ao hacker Walter Delatti Neto. Em depoimento na semana passada, ele afirmou aos parlamentares ter participado de reuniões com o ex-presidente Jair Bolsonaro para tratar de formas de descredibilizar as urnas eletrônicas.

— Vamos oferecer. Se for de interesse do Delgatti, a CPI está aberta para colher a contribuição dele —disse o deputado Rogério Correia (PT-MG).

A consulta à Advocacia do Senado foi feita tendo em vista uma possível delação do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid. Em caráter reservado, porém, alguns parlamentares avaliam como baixa a possibilidade de o militar colaborar com o colegiado. Um dos obstáculos é a participação de dois filhos de Bolsonaro na CPI, o senador Flávio (PL-RJ) e o deputado Eduardo (PL-SP). Por isso, há uma avaliação de que a defesa de Cid dê preferência para uma possível delação com a Polícia Federal.

Neste cenário, para esse grupo, o ideal seria aproveitar o aval da Advocacia do Senado para a oferta de delação para outros personagens mais suscetíveis a aceitar o acordo. Em relação a Delgatti, a possibilidade é dada como certa para alguns, mas há dúvidas se a defesa dele ainda teria “cartas na manga” para barganhar, após todos os depoimentos já feitos pelo hacker.

A Advocacia do Senado deliberou na terça-feira, 29, que a CPI pode fazer essa negociação, em resposta a uma consulta da relatora da comissão, senadora Eliziane Gama (PSD-MA). O órgão técnico afirmou que a proposta é legítima, mas condicionou a negociação à participação do Ministério Público Federal e à homologação de um juiz.

A intenção inicial era a de propor um acordo ao ex-ajudante de ordens para que ele colabore com as investigações sobre os atos golpistas. Caso a CPI consiga uma delação premiada, será um feito inédito na história do Congresso.

Após ficar em silêncio nas primeiras vezes que foi chamado a depor à PF, Cid já prestou dois depoimentos aos investigadores desde a semana passada— um na sexta-feira e outro nesta terça.

Os dois depoimentos prestados, segundo informações da PF, estavam relacionados ao inquérito que investiga a suposta contratação dos serviços do hacker Walter Delgatti Netto para invasão das urnas eletrônicas.

De acordo com Delgatti Netto, Mauro Cid teria participado da reunião em que a deputada federal Carla Zambelli promoveu entre ele e Jair Bolsonaro, em agosto do ano passado, no Palácio da Alvorada. O hacker está preso preventivamente por incluir no sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) um falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), supostamente por ordem da parlamentar.

O Globo