Ex-chefe da PRF comemorou não ter sido preso

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Foto: CRISTIANO MARIZ/Agência O Globo

Poucas horas após o resultado das eleições presidenciais do ano passado, o ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques demonstrou, em troca de mensagens privadas, alívio por não ter sido preso. “Tô bem. Kkkkk. Não me prenderam. Só perdemos a esperança. O país caiu na mão de bandidos”, respondeu a um amigo por meio de um aplicativo nas redes sociais.

As mensagens às quais o Valor teve acesso estão em poder dos membros da CPMI do 8 de janeiro depois da quebra de sigilo telemático aprovada pela comissão. Silvinei foi preso no dia 9 de agosto após investigação da Polícia Federal apontar suspeita de uso da máquina pública para beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno das eleições presidenciais.

No dia do segundo turno, ele precisou ir pessoalmente ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para explicar ao ministro Alexandre de Moraes as operações nas estradas federais, que estariam impedindo a chegada dos eleitores aos locais de votação.

No dia anterior, Moraes havia proibido a corporação de realizar qualquer operação contra veículos utilizados no transporte público de eleitores. Em mensagem encaminhada a um interlocutor às 22h27 do dia 29 de outubro, Silvinei diz que está respondendo à notificação de Moraes. “Me deu quatro horas”, diz. “Vieram aqui na minha casa. Não atendi”, complementa. Depois, em outra mensagem, diz que Moraes “não foi sacana no documento”.

Em seguida, o interlocutor responde que “o sistema está intimidando de todas as formas” e “Bolsonaro tem que ganhar”. Silvinei concorda: “Tem sim. E vai ganhar.” Logo depois, o ex-diretor-geral da PRF avisa que recebeu outra notificação de Moraes. “E diz que vai me prender.”

Sob o comando de Silvinei, a PRF teria “direcionado recursos humanos e materiais” para dificultar o trânsito de eleitores no dia 30 de outubro do ano passado. Segundo a PF, o foco da atuação dos agentes da corporação foram cidades do Nordeste onde o então candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, obteve mais de 75% dos votos no primeiro turno.

Em outro diálogo obtido pela CPMI do 8 de janeiro, travado com o então coordenador de comunicação institucional da PRF, Cristiano Vasconcellos, Silvinei repreende o colega, uma semana antes do primeiro turno, por achar que uma postagem pessoal poderia prejudicar a imagem da corporação e, por consequência, do ex-presidente Jair Bolsonaro.

“Tu sabes o que tu és? Já parasse para pensar? Tu és o chefe de comunicação da polícia com maior número de seguidores no mundo. A polícia que dizem que é do Bolsonaro”, afirma Silvinei.

No fim do ano passado, o ex-diretor-geral da PRF virou réu em ação de improbidade administrativa por ter pedido voto para Bolsonaro um dia antes do segundo turno das eleições. No dia 29 de outubro, em seu perfil do Instagram, ele publicou uma bandeira do Brasil com a mensagem “Vote 22, Bolsonaro presidente”. A mensagem foi apagada logo em seguida.

Procurado pelo Valor, o advogado Eduardo Nostrani Simão, um dos responsáveis pela defesa de Silvinei, alegou que não teve acesso ao conteúdo do celular do seu cliente. Ele alegou que a CPMI tem feito vazamentos criminosos.

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“A transferência dos dados sigilosos pela CPMI chamou a atenção em razão da ausência de relação com seu objeto”, disse.

O Valor tentou contato com o Cristiano Vasconcellos, mas não obteve retorno.

Valor Econômico