GDias abre mão do silêncio na CPI

Destaque, Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Reprodução

O general Gonçalves Dias, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), iniciou seu depoimento à CPI do 8 de Janeiro, no Congresso, traçando uma linha do tempo da sua atuação no dia em que houve as invasões aos prédios dos três Poderes. Ele afirmou aos parlamentar que recebeu “informações desencontradas” sobre o que estava acontecendo e que teria sido mais duro no combate aos atos golpistas do Planalto caso tivesse sido devidamente alertado. Afirmou, porém, que exerceu efetivamente sua função de comando.

— Tendo conhecimento agora da sequência dos fatos que nos levaram até as agressões de vândalos e também na ineficiência dos agentes que atuavam na execução do Plano Escudo, seria mais duro que fui na repressão. Faria diferente, embora tenha plena certeza de que envidei todos os esforços que estavam ao meu alcance — falou o militar.

Ele está amparado por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que o permite ficar em silêncio diante de perguntas que o incriminem. No entanto, o militar avisou que vai colaborar com os questionamentos que avalia que não têm potencial para o incriminar.

O ex-ministro afirmou ainda que a falta de ações da Polícia Militar do Distrito Federal prejudicou a segurança no dia dos atos.

– O consórcio de ações e inações das forças políticas e policiais, da Polícia Militar do Distrito Federal, que não foram eficazes no cumprimento das atividades sob sua responsabilidade previstas no Protocolo de Ações Integradas, levou àqueles eventos.

O ex-ministro também disse que os acampamentos de bolsonaristas deveriam ter sido desmontados. Os acampamentos reuniam pessoas que pregavam medidas golpistas para invalidar o resultado da eleição presidencial e foram montados no Quartel General do Exército, em Brasília, em novembro, logo após a derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição de 2022.

O ex-ministro afirmou que a posse de Lula e de ministros aconteceram em um clima de tranquilidade, mas reclamou que a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal não chamou o GSI para uma reunião feita dois dias antes dos ataques.

–Permanecia contudo a situação embaraçosa dos acampamentos de partidários do ex-presidente diante do Quartel General do Exército, algo que não deveria ter sido permitido e o foi. O governo que assumia herdou a situação. Ela era incômoda, seja no governo, seja no comando das Forças Armadas, seja nas forças federais de segurança. A decisão do governo era por fim àqueles acampamentos – disse.

–A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal passou uma reunião no dia 6 de janeiro, com diversos órgãos e setores encarregados da segurança e da prevenção dos distúrbios na Esplanada, e o Gabinete de Segurança Institucional não foi convidado para o evento – completou.

O ex-ministro do GSI declarou ter recebido informações desencontradas de seus auxiliares na época na época dos ataques. O militar avaliou que foi “conduzido a uma má avaliação dos fatos por ter recebido informações divergentes” de pessoas que trabalhavam com ele.

– Essas informações divergentes foram passadas por contatos diretos meus com o senhor Saulo Cunha (que comandava a Agência Brasileira de Inteligência na época), a coronel Cintia (Queiroz), da Polícia Militar do Distrito Federal, e o general Penteado, meu secretário-executivo. Essas informações divergentes me foram passadas na manhã do dia 8 de janeiro.

O general reconheceu que pediu para seu nome fosse retirado de um relatório da Abin que foi enviado à Comissão Mista Controle e Atividades de Inteligência (CCAI), do Congresso, mas ressaltou que fez isso porque não estava no grupo de WhatsApp em que os alertas de segurança, apontados no relatórios, foram enviados.

Em depoimento à CPI no início de agosto, Saulo Cunha, que comandava a Abin no dia dos ataques, disse que Dias teve acesso aos alertas de segurança. Na avaliação do ex-ministro, a “troca de mensagens por um aplicativo aberto e por celulares pessoais não correspondem à forma de segurança correta e institucional para transmissão de informações sensíveis”.

Ao falar sobre isso na comissão, o general elevou o tom de voz e demonstrou irritação:

– Não mandei ninguém adulterar documento ou retirar meu nome dos relatórios. Tão somente determinei ao senhor Saulo que organizasse as informações, que deveriam ser dadas à CCAI, dentro de uma lógica única. Os alertas de segurança enviados de fontes abertas passaram por um grupo de WhatsApp constituídos de órgãos públicos e não com meu nome. Como eu não integrava aqueles grupos, como não estava usando sequer celular público naquele momento, não constava o nome de pessoas no relatório, apenas de órgãos, apenas determinei que fossem padronizadas a fim de responder a CCAI com presteza e com a verdade.

Ele disse ainda que usou “todos seus esforços para mitigar danos e o mais importante preservar vidas de cidadãos sem nenhuma gota de sangue, ou seja, sem nenhuma morte”.

– É claro que seria radicalmente mais exigente e minucioso no detalhamento do planejamento do esquema de segurança, mesmo aquilo sendo responsabilidade da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal. Em resumo, olhando para trás, algumas decisões seriam tomadas de forma diferente.

Embora um pedido para ouvir o militar estivesse aprovado desde as primeiras reuniões do colegiado, a sua presença no colegiado motivou queda de braço entre governistas e oposição.

A data só foi marcada após a apresentação de uma questão de ordem feita pelo senador Esperidião Amin (PP-SC). Parlamentares da oposição sustentam que GDias foi alertado previamente dos atos que resultaram na invasão e na depredação de prédios públicos, mas se omitiu.

Dias saiu do comando do GSI em abril, após aparecer em imagens, divulgadas pela CNN, interagindo com os autores dos ataques dentro do Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro. A revelação do caso também foi um estopim para o governo decidir destravar a CPI do Congresso. No depoimento desta quarta, o general disse que saiu do cargo “por causa da divulgação imprecisa e desconexa de vídeos gravados no interior dentro do Palácio do Planalto”.

O Globo