Golpistas acampados queria atacar equipe de transição de Lula

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Foto: Cristiano Mariz

A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) fez um monitoramento diário da movimentação nos dois meses que durou o acampamento golpista montado em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília, após o segundo turno das eleições do ano passado. Relatórios produzidos pelo órgão apontam que, no período, o grupo planejou realizar uma “vigília” contra a equipe de transição do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, tentou mudar a localização das barracas para as imediações do Palácio da Alvorada e, em algumas ocasiões, se desentendeu sobre estratégias de atuação.

Um alerta emitido pela Abin no dia 7 de novembro informava sobre uma mobilização para o grupo ir até o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), a cerca de 20 quilômetros do QG do Exército, onde estava acampado, protestar contra futuros integrantes do governo eleito. Naquele momento, o local estava sendo preparado para receber a equipe de Lula. “Circula em aplicativos de mensageria e redes sociais convocação para realização de ato sob o mote de ‘vigília de boas vindas’ contra a equipe de transição do governo, instalada no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). O objetivo seria realizar o ato diariamente durante todo o período de transição”, diz trecho do relatório.

Na ocasião, a segurança no CCBB foi reforçada com o efetivo da Polícia Militar e vistorias semanais do esquadrão anti-bombas da Polícia Federal. Nenhum protesto foi registrado.

Os informes da Abin começaram em 1º de novembro de 2022, no dia seguinte ao segundo turno das eleições. Na ocasião, os agentes registraram a presença de “veículos motorhome, infraestrutura de barracas e toldos” na região do QG do Exército. “Não há previsão de desmobilização do protesto”, apontou a Abin.

Durante o monitoramento, os oficiais da agência de inteligência identificaram uma série de rixas internas entre os acampados. Uma delas ocorreu a quatro dias da posse de Lula, no dia 28 de dezembro, quando uma parte dos manifestantes queria ocupar a Esplanada dos Ministérios, o que poderia afetar a organização da cerimônia que simboliza o início do novo governo. A discussão, segundo a Abin, acabou em confusão “Houve um princípio de tumulto em razão da presença de indivíduo contrário ao acampamento no local. Ele foi expulso por pessoas que fazem segurança velada da manifestação”, diz o informe. Sem acordo, eles permaneceram em frente ao QG do Exército.

Um mês antes, em 29 de novembro, outras divergências foram anotadas pela Abin. Um grupo de 50 pessoas foi para a frente do Ministério da Justiça pedir o “estabelecimento de Garantia da Lei e da Ordem (GLO)”. “Há divergências de posicionamento quanto à realização da marcha, o que tende a limitar o seu alcance. Parte dos manifestantes concentrados no QGE critica a ação e solicita que o protesto permaneça nas proximidades do QGE”, acrescenta outro alerta.

No dia da cerimônia de diplomação de Lula no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 12 de dezembro, o órgão de inteligência acompanhou o passo a passo da movimentação do grupo. Apontou que os manifestantes estavam “divididos” sobre ir ao Alvorada ou à Esplanada dos Ministérios para protestar contra o petista. “Manifestantes acampados no QG estão divididos sobre deslocamento. Parte do grupo planeja ir para Esplanada. Outro grupo pretende se juntar aos que estão desde a noite anterior no Palácio do Alvorada. Um terceiro grupo planeja ir para o Tribunal Superior Eleitoral”, diz o alerta.

Durante o dia, a cerimônia de diplomação de Lula ocorreu sem incidentes. A maioria dos acampados no QG foi ao Alvorada, “onde aguarda pronunciamento do atual presidente da República”. “Aproximadamente mil pessoas no local”.

À noite, contudo, parte do grupo se dirigiu até a sede da Polícia Federal para protestar contra a prisão de um indígena apoiador de Bolsonaro que frequentava o acampamento. Lá, eles ganharam o reforço de um efetivo extra que saiu do QG.

“Sete ônibus saindo agora do QGE em direção à Polícia Federal. Desses, três já saíram. Com indígenas e não indígenas, além de algumas caminhonetes”, diz o alerta da Abin emitido no dia. Os informes seguintes relatam as cenas de destruição vistas no centro de Brasília naquele dia, que envolveu o incêndio de carros e ônibus, tentativa de invasão ao prédio da PF e quebra de vidraças de uma delegacia.

Em um relatório de inteligência de 13 de dezembro do ano passado, o órgão afirmou em suas “considerações finais” que o acampamento estava “relacionado” a “incidentes violentos” ocorridos em Brasília que poderiam “inspirar” novos conflitos.

“Os incidentes violentos observados em Brasília estariam relacionados à dinâmica própria da organização da manifestação em frente ao QGE, com grupos heterogêneos divergindo sobre a orientação do movimento, e foram deflagrados após prisão de liderança do acampamento. Até o momento não há indicativo de que novos atos violentos estejam sendo organizados. No entanto, a efetividade das ações simultâneas e difusas na área central da capital federal, dificultando a capacidade de resposta estatal, pode inspirar manifestantes mais exaltados a adotar novamente táticas semelhantes de confrontos”, diz o documento.

O Globo