Governador do Rio prepara muro da vergonha administrativa

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Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo

Cláudio Castro teve uma ideia para acabar com a violência na Linha Vermelha. Mandou erguer um muro nas laterais da via expressa.

Segundo o governador, a medida vai “garantir a segurança de todos que passam”. Faltou mencionar os que ficam: os moradores de bairros e favelas cortados pela autoestrada.

A Linha Vermelha cruza regiões historicamente dominadas pelo crime, como Vigário Geral e Maré. Em vez de prender os bandidos e libertar as comunidades, Castro quer escondê-las da visão dos motoristas de classe média.

A solução de segregar a pobreza não é boa nem nova. Em 2010, o prefeito Eduardo Paes mandou instalar barreiras de três metros de altura entre a Linha Vermelha e a Maré. Ao ser acusado de tentar ocultar a favela, disse que o objetivo era proteger os tímpanos de seus moradores.

Na época, parte da via expressa foi cercada por uma estrutura de aço, concreto e acrílico. Agora Castro quer erguer um muro mais imponente, com 30 centímetros de espessura. Segundo o secretário Washington Reis, a construção seria capaz de resistir a tiros de fuzil.

A ideia de combater a violência com tijolos é espantosa até para os padrões do governo Castro. “Será um muro do fracasso, da falência da política de segurança”, critica a socióloga Silvia Ramos, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania. “O governador prefere erguer um muro a investir em inteligência e prevenção. É como se houvesse uma desistência total do poder público”, lamenta.

Ex-vice de Wilson Witzel, o governador do “tiro na cabecinha”, Castro mantém a aposta na política do bangue-bangue. Em sua gestão, foram registradas duas das três maiores chacinas policiais da história do Rio.

Reeleito com apoio de Jair Bolsonaro, o governador já se disse “radicalmente contra” o uso de câmeras nos uniformes de PMs de unidades especiais — não por acaso, responsáveis pelas ações mais sangrentas da polícia.

No último domingo, homens do Batalhão de Choque mataram Thiago Flausino, de 13 anos. O adolescente passeava de moto com um amigo na Cidade de Deus. A família afirma que ele foi executado. Ontem o presidente Lula criticou a ação policial na presença de Castro.

O caso seria elucidado rapidamente se os agentes usassem as câmeras desprezadas pelo governador. A morte de Thiago teve repercussão nacional, mas Castro ainda não disse uma palavra a respeito.

O Globo