Hacker invadiu email de Moraes e não encontrou nada

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Foto: Bruno Spada/Reprodução

Eleita em 2018 e reeleita em 2022 como uma das maiores aliadas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) é alvo de busca e apreensão pela operação 3FA, realizada pela Polícia Federal (PF) nesta quarta-feira, em Brasília. O objetivo da operação é esclarecer a atuação de indivíduos na invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e na inserção de documentos e alvarás de soltura falsos no Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP). No mesmo escopo, a PF também cumpre um mandado de prisão contra o hacker Walter Delgatti. Agentes estão no apartamento e no gabinete da parlamentar, em Brasília, e na casa do hacker, em São Paulo.

A parlamentar foi a terceira deputada federal mais votada do país na última eleição, com 946 mil votos, perdendo apenas para Nikolas Ferreira (PL-MG) e Guilherme Boulos (PSOL-SP), e a segunda mais votada em São Paulo. Zambelli se coloca como liberal na direita e conservadora nos costumes.

Um dos casos mais emblemáticos de Zambelli foi o episódio ocorrido às vésperas do segundo turno de 2022. Em meio a alta polarização entre os apoiadores de Lula e Bolsonaro, Zambelli, já reeleita, sacou uma arma e apontou para um homem na tarde no bairro nobre dos Jardins, em São Paulo. Desde o episódio, a paulista sofre críticas e está isolada dentro do PL.

À época da crise, Bolsonaro chegou a considerar a aliados que aquele episódio de Zambelli, atribuído também à cena de Roberto Jefferson jogando granadas e dando tiros em policiais federais, havia contribuído para sua derrota na cidade de São Paulo.

Natural de Ribeirão Preto, Zambelli é gerente de projetos e trabalhava na KPMG, em São Paulo. É fundadora do grupo NasRuas, de 2011, e participou de atos do movimento feminista ucraniano Femen no Brasil, em 2010. Fotos publicadas na internet mostram Zambelli vestindo uma blusa com o logo do movimento, cordão de flores na cabeça — marca registrada do grupo feminista — e com a frase “quero nascer em casa” escrita na barriga em uma manifestação em frente ao Museu de Arte de São Paulo (MASP). O ato, realizado em 2012, era contra uma decisão do Conselho Regional de Medicina do estado do Rio de Janeiro de proibir médicos de realizarem partos em casa. A então ativista aparece ao lado de Sara Giromini, que foi presa pela PF em 2020. Em 2020, a deputada negou ter sido integrante do movimento, já que nunca fez topless em protestos e, justificando as imagens que circulam pela internet, e que apenas trocou de camisa com Sara para fazer uma foto.

Zambelli ganhou notoriedade em 2013 em meio aos protestos que tomaram as ruas do país. Nos anos seguintes, ela entrou de cabeça em manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff e aproximou-se de Jair Bolsonaro, liderando a tropa de choque no governo do ex-presidente.

— Aqueles episódios foram o despertar. Tínhamos feito manifestações no 7 de Setembro de 2011 e 2012, mas em 2013 foi diferente — lembra Zambelli, em entrevista ao GLOBO dez anos após os atos.

Durante os atos contra Dilma, se aproximou de Joice Hasselmann, com quem rompeu após as eleições de 2018 por Bolsonaro. A deputada também era próxima do ex-juiz da Lava-Jato Sérgio Moro, ministro da Justiça e Segurança Pública até abril de 2020. No período, em meio a crise pela saída de Moro, Zambelli trocou mensagens e sugeriu que ele teria uma vaga garantida como ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) caso continuasse no cargo.

A operação da PF coincide com a apreciação dos processos contra ela no Conselho de Ética da Câmara. Os parlamentares apreciam nesta quarta-feira processos contra a deputada por ter constrangido o deputado Duarte (PSB-MA) durante audiência com Flávio Dino.

A deputada acumula inúmeros processos por divulgar notícias falsas e por danos morais. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) multou Carla Zambelli pela veiculação de conteúdo sabidamente inverídico sobre o então candidato à presidência Lula. Ela foi multada em R$ 30 mil, por publicações que atribuíram ao petista supostos atos de corrupção e crimes financeiros.

Em outro caso, a deputada foi condenada pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul a indenizar Manuela D’Ávila por danos morais após associar a ex-parlamentar com a “esquerda genocida”. Em abril, Zambelli divulgou um pix pedindo contribuição financeira de apoiadores para pagar os processos.

Em dezembro, os perfis da deputada foram bloqueados a pedido do ministro Alexandre de Moraes. Moraes determinou ainda que o Ministério Público Eleitoral adote providências sobre a insistência da deputada em divulgar denúncias sem provas sobre fraude ao processo eleitoral, questionar o resultado das urnas e incentivar atos antidemocráticos.

Zambelli já protagonizou o seu embate com Bolsonaro. Em fevereiro, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, a deputada criticou o aliado por não ter agido para desmobilizar as manifestações na porta de quartéis após a derrota para Lula nas eleições do ano passado. “Ele seria um remédio se tivesse dito que era para as pessoas saírem”, disse a parlamentar, que também questionou o fato de Bolsonaro, que se encontrava nos Estados Unidos à época, não voltar ao Brasil para liderar a oposição.

Após a declaração, Zambelli passou a ser vista como traidora pelo núcleo duro bolsonarista — termo que chegou a ser usado pelo próprio ex-presidente junto a interlocutores. Publicamente, ele até tentou desdenhar do episódio, mas deixou transparecer o incômodo: “Eu não li essa entrevista, nem vou ler”, afirmou Bolsonaro à CNN Brasil.

O hacker Walter Delgatti Netto disse em depoimento à Polícia Federal que a deputada Carla Zambelli (PL-SP) o contratou para invadir as contas de e-mail e o telefone do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Em depoimento, o hacker contou que a deputada fez o pedido em um encontro na Rodovia dos Bandeirantes, na capital paulista, em setembro de 2022. À PF, ele disse que só conseguiu acessar o e-mail de Moraes, mas não encontrou nada de comprometedor, e que não obteve êxito ao tentar acessar o celular do magistrado.

Delgatti também alegou ter tentado invadir o sistema de segurança das urnas eletrônicas, mas também sem sucesso.

Zambelli, que chegou a levar o hacker a reuniões em Brasília, afirmou a interlocutores que sua intenção era discutir a possibilidade de ele integrar uma equipe de consultores contratados para fiscalizar as urnas eletrônicas. A parlamentar levou Delgatti a um encontro com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, na sede do partido, e outro com o então presidente Jair Bolsonaro, no Palácio da Alvorada.

Preso em 2019 na Operação Spoofing, Delgatti foi o responsável por invadir o Telegram e copiar diálogos de integrantes da Operação Lava-Jato. O plano de Zambelli era que ele fosse contratado como um especialista em ataques cibernéticos pelo Instituto Voto Legal, indicado pelo PL ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para auditar as eleições em outubro — a instituição ainda aguarda o credenciamento da Corte.

O Globo