Lula diz que Amazônia não pode ser “depósito de riqueza’

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Foto: Reprodução

O presidente Lula (PT) disse hoje que a Amazônia não é e não pode ser tratada como “um grande depósito de riqueza”. A declaração foi dada durante a Cúpula da Amazônia, que reúne os chefes de Estado dos países que abrigam a floresta, em Belém.

O presidente defendeu que na floresta podem estar soluções para problemas. Ele argumentou que não é possível conceber a preservação da Amazônia sem resolver as questões para os povos que habitam nela. “É rica em recursos hídricos, mas em muitos lugares falta água potável”, disse Lula.

O desenvolvimento sustentável foi um dos três pilares da campanha do petista no ano passado. Em seus discursos, ele tem defendido que a região de floresta seja explorada de maneira compatível com o meio ambiente, sem aumentar o desmatamento, mas gerando renda aos moradores.

Lula citou o que chamou de “severo agravamento da crise climática”. Ele avaliou que é urgente retomar e ampliar a cooperação entre países da região. Segundo ele, a reunião deve gerar três grandes propostas, entre elas a combinação entre proteção ambiental e geração de empregos para quem vive na Amazônia.

O petista também classificou a floresta como “passaporte para uma relação mais simétrica”. A reunião é considerada pelo governo brasileiro como seu principal ato de política externa em 2023, uma sinal para a comunidade internacional de que o país quer reassumir a soberania e a presença do estado na região.

O presidente voltou a criticar o governo Bolsonaro e o chamou de “negacionista”. Ele disse que seu antecessor “abriu as portas para os ilícitos ambientais e o crime organizado” e relembrou o discurso dele na Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) em 2020 — na ocasião, Bolsonaro responsabilizou índios e caboclos por incêndios na Amazônia, num discurso com mentiras e dados imprecisos.

A Cúpula da Amazônia reúne países-membros da OTCA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônica), criada em 1978 e que há 14 anos não se reunia. Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela fazem parte.

A crise política que se abateu sobre o Brasil levou ao poder um governo negacionista com consequências nefastas. Meu antecessor abriu as portas para os ilícitos ambientais e o crime organizado. Os índices de desmatamento voltaram a crescer. Suas políticas beneficiaram apenas uma minoria que visa o lucro imediato. Na tribuna da ONU, o Brasil ressuscitou noções de um nacionalismo primitivo e responsabilizou “índios e caboclos” pelas queimadas provocadas pela ação humana. Nos tornamos um pária entre as nações e nos afastamos de nossa própria região.

A Amazônia não é só feita de flora e fauna (…) Não é possível conceber a preservação da Amazônia sem resolver os múltiplos problemas estruturais que ela enfrenta. A Amazônia é rica em recursos hídricos, mas em muitos lugares falta água potável. A despeito da sua grande biodiversidade, milhões de pessoas na região ainda passam fome. Redes criminosas hoje se organizam transnacionalmente, aumentando a insegurança por toda a região. Estamos empenhados em reverter esse quadro.

A Amazônia não é e não pode ser tratada como um grande depósito de riquezas. Ela é uma incubadora de conhecimentos e tecnologias que mal começamos a dimensionar. Aqui podem estar soluções para inúmeros problemas da humanidade – da cura de doenças ao comércio mais sustentável. A floresta não é um vazio a ser ocupado, nem um tesouro a ser saqueado. É um canteiro de possibilidades que precisa ser cultivado.

A floresta nos une. É hora de olhar para o coração do continente e consolidar, de uma vez por todas, nossa identidade amazônica. Além de lidar com os desafios na nossa região, isso nos permitirá enfrentar uma ordem global cada vez mais incerta. Em um sistema internacional que não foi construído por nós, foi nos reservado historicamente o lugar subalterno de fornecedores de matérias-primas. A transição ecológica justa nos permite mudar esse quadro. A Amazônia é nosso passaporte para uma nova relação com o mundo – uma relação mais simétrica, na qual nossos recursos não serão explorados em benefício de poucos, mas valorizados e colocados a serviço de todos.

Uol