Maiores partidos do país são coadjuvantes em SP
Foto: Maria Isabel Oliveira e Edilson Dantas
Em um país ainda polarizado, PT e PL devem disputar a eleição ao comando da maior cidade do país na condição de coadjuvantes. Enquanto o PT, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, deve receber a vaga de vice do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), o PL, sigla à qual é filiado o ex-presidente Jair Bolsonaro, negocia compor a chapa do prefeito Ricardo Nunes (MDB), postulante à reeleição.
A costura do PT com o PSOL está consolidada: no último sábado, o partido de Lula oficializou o apoio a Boulos. Uma das condições para abrir mão da candidatura em São Paulo, uma decisão inédita na cidade, foi ter o direito de indicar a vice. A resolução aprovada pelo partido diz que a vaga deve ser ocupada “preferencialmente” por uma mulher.
Há duas favoritas na disputa: Ana Estela Haddad, secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde e mulher do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a deputada federal Juliana Cardoso, que foi vereadora na capital por quatro mandatos. Correndo por fora, está Rui Falcão, deputado federal e ex-presidente do PT.
Ana Estela é vista como um nome de consenso e que garantiria uma maior participação de Haddad na campanha. O ministro ganhou na capital do governador Tarcísio de Freitas no segundo turno de 2022. Professora da USP, Ana Estela foi quem deu a ideia de criar o Prouni,programa que virou bandeira do PT na educação.
Juliana, por outro lado, tem o apoio da militância de base da sigla, ligada principalmente aos movimentos sociais. De origem indígena, a deputada é tida como um nome raiz do PT e com forte atuação sobretudo na periferia de São Paulo.
— Sim, estou disposta a ser vice de Boulos, porque somos complementares e formamos uma forte chapa progressista na cidade, em defesa da população que mais precisa. Sou da periferia e militante histórica do PT, tenho experiência em gestão da cidade e diálogo com diversos setores políticos da capital — diz Juliana.
Em entrevista ao GLOBO, Boulos afirmou que não irá antecipar o debate sobre a vice, que será indicada pelo PT. Um dirigente petista avalia que Ana Estela agregaria mais votos à chapa, por supostamente ter mais diálogo com a classe média, enquanto Juliana conversaria com um público já ligado ao líder sem-teto.
Já a vaga de vice do prefeito de São Paulo caminha para ficar com o PL, mas ainda não há consenso sobre os nomes. A ala ligada a Bolsonaro defende que o indicado seja alguém do núcleo duro do ex-presidente. Já o diretório municipal, sob forte influência do deputado federal Antonio Carlos Rodrigues, deseja um vice moderado e que faça parte do “PL raiz”.
— Tem que ser alguém do PL. E não tão radical. Alguém mais de centro, com ideias conservadoras — afirma Isac Félix, vereador e presidente do PL municipal.
Entre os bolsonaristas, quem desponta é Fabio Wajngarten. O ex-chefe da secretaria de comunicação do Planalto foi um dos principais responsáveis pela aproximação de Bolsonaro com o prefeito. É visto como um bom articulador político, além de alguém que transita bem no setor empresarial e jurídico.
Parlamentares do núcleo ideológico ainda ventilam Sonaira Fernandes (Republicanos) como possível vice. Secretária da Mulher do governo Tarcísio de Freitas, ela reúne dois importantes atributos: é próxima de Bolsonaro e aclamada pela militância por sua defesa das pautas ideológicas, como aborto e ideologia de gênero. O maior entrave é a filiação ao Republicanos. Outro cotado é o vereador Fernando Holiday, que se filiou ao PL.
Se Boulos dá como certo o palanque de Lula em São Paulo, Nunes enfrenta um dilema: hesita em abraçar o aliado Bolsonaro, enquanto coleciona encontros e fotos ao lado do ex-presidente. Na última segunda-feira, os dois almoçaram juntos, dessa vez na prefeitura. Após a agenda, Bolsonaro citou que a reunião teve “algum desabafo”, mas que a aliança caminha para ser selada:
— Vamos supor que a gente feche acordo. Não obrigatoriamente um vice tem que ser meu. Está quase fechado, podemos nos considerar noivos. Mas, num lançamento muito antecipado, você começa a levar tiros desnecessários, é desgaste até o último dia. Vamos deixar atrasar ao máximo.
A indefinição incomoda articuladores bolsonaristas. Eles acusam Nunes de estar com “nojo” da direita e dizem que ele não tem dado o devido peso eleitoral a Bolsonaro. A queixa se refere ao fato de o prefeito ter sentado à mesa com diversos partidos, como Republicanos, União e PP, e tratado o PL como “mais um deles.”