Mulher de Haddad não quer ser vice de Boulos

Destaque, Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Diogo Zacarias/Campanha Haddad

Começa a ganhar corpo a possibilidade de Ana Estela Haddad ficar de fora da vice de Guilherme Boulos (PSOL-SP) na corrida pela prefeitura de São Paulo em 2024. Mulher do ministro da Fazenda, Ana Estela é secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde e despontava, até então, como a favorita para compor a chapa com o psolista.

Embora seja considerada de perfil técnico, Ana Estela é também uma discreta articuladora política e se tornou um nome de peso no PT. Na eleição, atuou ativamente na campanha do marido, Fernando Haddad, e também na de Lula, organizando a histórica volta do petista e então candidato a presidente à USP após 20 anos. Este ano, a secretária passou a ser ventilada como uma candidata a vice de Boulos em uma tentativa de trazer a campanha do psolista para o centro.

Mas, de acordo com petistas que acompanham de perto as articulações, Ana Estela já sinalizou que não deseja disputar o cargo. Pessoas próximas atribuem a resistência ao fato de a secretária estar focada no trabalho de transformação digital do SUS, tema que ela estuda há anos e sobre o qual se tornou referência no país.

Na avaliação da secretária, faz mais sentido continuar ocupando o seu atual cargo no governo, que reflete exatamente com a sua trajetória e formação acadêmica, do que se tornar vice de Boulos. Também pesaria contra o fato de, numa eventual vitória, ela morar em cidade separada do marido.

Aliados dizem que não há martelo batido, mas admitem ser difícil fazê-la mudar de opinião. Uma das apostas é que apenas uma pressão vinda da cúpula do PT a colocaria na vice de Boulos.

Ana Estela era um nome de consenso no PT e também a preferida de Guilherme Boulos para a vice. Além de ajudar o deputado federal do PSOL a dialogar com a classe média, a secretária garantiria uma maior participação de Haddad na campanha em São Paulo. O ministro ganhou na capital do governador Tarcísio de Freitas no segundo turno de 2022.

Professora da USP, Ana Estela foi quem deu a ideia de criar o ProUni, programa que virou bandeira do PT na educação. Também esteve por trás da criação do Telessaúde Brasil Redes, reconhecido como referência mundial pela OMS em 2014. A expectativa era que a presença dela na chapa ajudasse a suavizar a imagem de Boulos, associado ao radicalismo por adversários políticos.

Quem corre por fora é a deputada federal Juliana Cardoso (PT-SP), que foi vereadora na capital por quatro mandatos. Ligada aos movimentos sociais e com forte atuação na periferia paulistana, Juliana não é nome de consenso nem mesmo na bancada da Câmara Municipal. Petistas argumentam que a parlamentar tem um eleitorado parecido com o do Boulos, não agregando tanto à campanha.

Caso a negativa de Ana Estela se confirme, interlocutores de Boulos dizem que a busca será por uma vice com perfil semelhante ao dela, que sinalize para o centro. Deverá ser, ainda, preferencialmente mulher, como apontado em resolução aprovada no congresso municipal que oficializou o apoio ao líder sem-teto. Embora tenha tido sua presença anunciada no evento, Ana Estela não marcou presença.

O nome do deputado federal Rui Falcão (PT-SP) também é citado por deputados paulistas, mas o entorno de Boulos acredita ser pouco provável a composição justamente por ele ser homem.

Em uma decisão histórica, o PT confirmou o apoio a Boulos na disputa à prefeitura de São Paulo no início do mês, em meio a resistência de uma ala ligada ao secretário nacional de Comunicação da sigla, Jilmar Tatto, que defendia candidatura própria na capital.

A aliança do PT com Boulos foi construída ainda no ano passado. Na ocasião, o psolista retirou sua pré-candidatura ao governo de São Paulo para apoiar Haddad na eleição estadual. Em troca, a sigla de Lula prometeu apoio ao deputado do PSOL em 2024, mas exigiu a indicação da vice.

A opção por abrir mão do protagonismo em São Paulo também se repete em outras cidades de grande porte e ocorre após uma campanha frustrada em 2020, quando o PT terminou sem ter conseguido eleger um único prefeito nas 26 capitais.

O Globo