Presidente da Caixa vira alvo do Centrão por cargo

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Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo

Ameaçada pela iminente entrada no governo de PP e Republicanos, a presidente da Caixa, Rita Serrano, traçou uma estratégia para se segurar no cargo. Nas últimas semanas, ela ampliou o número de agendas com ministros, acelerou entregas e deu prioridade à comunicação do banco. Em outra frente, porém, tem recebido respaldo de sindicatos para permanecer.

Nos últimos dias, ela esteve com Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Márcio Macêdo (Secretaria-Geral) e Maria Fernanda Ramos Coelho, ex-presidente do banco e secretária-executiva da Secretaria-Geral da Presidência.

A Padilha, ministro responsável por apresentar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva opções de troca no primeiro escalão, Serrano apresentou um balanço dos trabalhos. Já com Macêdo, tratou de uma parceria de financiamento para catadores.

Nessas conversas, ela procura tratar de ações da Caixa e mostrar os resultados do próprio trabalho. Embora evite tornar sua eventual substituição a pauta principal, Serrano tem feito comentários das pressões sofridas.

Neste contexto, ela determinou que a Caixa abrisse todas as agências uma hora mais cedo em 21 de julho para o Dia do Desenrola, mutirão de renegociação de dívidas. Ela foi até uma agência em Brasília para acompanhar os atendimentos e divulgar que, em três dias, a Caixa atendeu 22 mil pessoas e renegociou R$ 10 milhões em dívidas no programa do Ministério da Fazenda.

No dia 19, Serrano participou de uma reunião com outros três bancos públicos para ampliar o compartilhamento da rede de atendimento da Caixa. Estiveram presentes os presidentes do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros; do Banco do Nordeste, Paulo Câmara; e do Basa, Luiz Lessa. Ela tratou de convênios para pagamentos e recebimentos e construção de datacenter.

Na última quinta-feira, quando esteve com Lula no Palácio do Alvorada, a presidente da Caixa apresentou ao presidente um balanço da sua gestão. A presidente levou a Lula os números de mais de 322 mil propostas recebidas para o novo Minha Casa, Minha Vida, R$ 448,5 milhões em dívidas liquidadas do Desenrola Brasil e cerca de R$ 10 bilhões em contratações do Financiamento à Infraestrutura e ao Saneamento (Finisa) para estados e municípios.

Durante essa conversa, integrantes do governo apontam que Lula teria sinalizado a Serrano um prazo de poucos dias para a permanência dela no cargo. Auxiliares do presidente, porém, negam que haja definição a respeito da possível saída. Após o encontro com Lula, Serrano afirmou que permanece no posto:

— Como sou muito teimosa, vocês fiquem tranquilos: sou teimosa, estou aqui, vou continuar trabalhando muito.

Integrantes da Caixa ouvidos pelo GLOBO afirmam que Serrano tem mantido a postura de “fincar o pé” frente à possibilidade de sair. No Palácio do Planalto, a aposta é que a saída dela é a mais adiantada das substituições que ocorrerão no âmbito da reforma ministerial.

A avaliação de integrantes do governo é que Serrano não tem quem a defenda frente à cobiça do PP pelo cargo ou aliados de peso que sustentem seu nome junto a Lula.

Não bastasse isso, a gestão de Rita Serrano também sofre críticas internas no Palácio. A principal delas ocorreu quando desagradou Lula ao anunciar, sem combinar com o Planalto, a cobrança de taxa nas operações para Pix de empresas, algo que já é prática em outros bancos. Diante da repercussão negativa da medida nas redes, Lula mandou o banco recuar.

Frente ao desgaste, a presidente da Caixa tem contado com apoio de sindicatos. O Sindicato dos Bancários do ABC, entidade da qual Serrano é ex-presidente, divulgou nota afirmando que não aceitaria sua substituição. A Federação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro dos Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo (Fetraf-RJ/ES) também publicou manifesto destacando a trajetória de Serrano — ela é funcionária desde 1989.

Em 13 de julho, durante cerimônia de assinatura da medida provisória que recriou o Minha Casa, Minha Vida no Palácio do Planalto, servidores do banco repetiram “Fica Rita” na presença do presidente Lula.

A ex-deputada Margarete Coelho (PP-PI) e o ex-ministro Gilberto Occhi, ambos aliados do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), são os favoritos para o posto. Atual diretora de administração e finanças do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Margarete já atuou como advogada de Lira e também foi vice-governadora do Piauí na gestão de Wellington Dias (PT), hoje ministro do Desenvolvimento Social.

Occhi foi ministro das Cidades e da Integração Nacional no governo de Dilma Rousseff, por indicação do PP. Ele deixou a gestão quando o partido aderiu ao impeachment e, posteriormente, já na Presidência de Michel Temer, esteve à frente da própria Caixa e do Ministério da Saúde.

O Globo