Rosa e Cármem não farão indicações de mulheres
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Discreta e pouco afeita a conversas políticas, a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Rosa Weber, decidiu não apadrinhar ninguém para a vaga que abre com a sua aposentadoria compulsória – ela completa 75 anos em 2 de outubro. Prestes a deixar a Corte, a magistrada tem dito a interlocutores que, embora considere importante a nomeação de uma mulher para o cargo, não vai fazer qualquer movimento junto ao Palácio do Planalto para emplacar uma sucessora. A outra representante feminina na Corte, ministra Cármen Lúcia, também não pretende apoiar ninguém, a despeito de, da mesma forma, criticar a pouca diversidade de gênero na Corte. Ambas querem manter suas imagens desvinculadas das possíveis candidatas.
Elas entendem que a nomeação para o Supremo é uma prerrogativa exclusiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que, sendo assim, não é apropriado qualquer tipo de interferência em seu processo de escolha. Temos juízas e desembargadoras negras competentíssimas” — Cármen Lúcia Em vez de fazer campanha para alguém em específico, as ministras têm optado por declarações públicas mais genéricas, em defesa de mais mulheres na Corte. Na semana passada, durante evento do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Rosa afirmou que “o déficit de representatividade feminina em espaços de poder significa um déficit para a própria democracia brasileira”. Já Cármen, em entrevista à revista “Marie Claire”, foi além da questão de gênero e abordou também a racial: “Temos juízas e desembargadoras negras competentíssimas. Não há, portanto, razão para que não haja uma mulher negra no STF.” Em abril, quando decidiu se aposentar, o então ministro Ricardo Lewandowski tentou emplacar como seu substituto o jurista Manoel Carlos de Almeida Neto, ex-secretário-geral do STF. Mas Lula, apesar de ter se aconselhado com o magistrado, acabou optando pelo ministro Cristiano Zanin, que havia sido seu advogado na Operação Lava-Jato. Como já nomeou um homem para a vaga de Lewandowski, o petista tem sofrido cada vez mais pressão para indicar uma mulher para o lugar de Rosa. Seus auxiliares têm buscado alertá-lo sobre o custo político de deixar a Corte ainda mais sub-representada em relação à diversidade. Lula se mostrou aberto a analisar as sugestões trazidas à mesa e a buscar mais informações sobre as candidatas. Até o momento, as mais citadas são a ministra Regina Helena Costa, do Superior Tribunal de Justiça (STJ); a desembargadora Simone Schreiber, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2); as advogadas Dora Cavalcanti e Carol Proner; e a procuradora federal Manuelita Hermes Rosa. Porém, a avaliação atual de Lula é a de que nenhuma delas é de sua estrita confiança. Por esse critério, prioritário para o presidente, os mais bem avaliados seguem sendo o advogado-geral da União, Jorge Messias; o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino; e o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas. Lula tem dito que tudo ainda está em aberto. “Vou discutir se é homem, mulher, negro, branco, tudo isso é problema meu, que está dentro da minha cabeça. Ninguém tem que tentar adivinhar”, disse ele, semana passada.