Wassef confessa que foi comprar relogio nos EUA

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Foto: Daniel Marenco/Agência O Globo

O advogado Frederick Wassef, que atua para a família do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), admitiu nessa terça-feira (15) que comprou nos Estados Unidos o relógio de luxo da marca Rolex que foi presenteado ao antigo chefe de Estado brasileiro, em 2019, após uma viagem à Arábia Saudita e ao Catar. Ele negou que tenha viajado para fazer uma “operação de resgate” da peça, como afirma a Polícia Federal (PF). “Meu objetivo, quando comprei [o relógio], era devolver à União. Fiz o que entendi ser o melhor para o meu cliente”, ressaltou o advogado, que convocou a entrevista num hotel cinco estrelas em São Paulo, segundo disse, com a anuência de Bolsonaro. Wassef apresentou aos jornalistas o recibo da compra do Rolex, que custou US$ 49 mil (cerca de R$ 245 mil no câmbio dessa terça), e disse que o adquiriu com dinheiro vivo. O objetivo, ressaltou, era cumprir decisão do Tribunal de Contas da União (TCU), que em março determinou que o ex-presidente devolvesse os presentes sauditas.

Na semana passada, em entrevista à jornalista Andreia Sadi, da GloboNews, o advogado de Bolsonaro disse “nunca ter visto esse relógio”. Wassef não respondeu quem o informou sobre a disponibilidade do Rolex numa loja no Estado da Pensilvânia nem como o item retornou ao Brasil. O relógio foi adquirido na Precision Watches, uma loja especializada que fica em Willow Grove, uma cidade de 15 mil habitantes localizada a 20 km da Filadélfia. Segundo investigação da Polícia Federal (PF) ainda em curso, o relógio foi levado pela comitiva do ex-presidente para os Estados Unidos e lá foi vendido ilegalmente pelo ex-ajudante de ordem de Bolsonaro na Presidência, o tenente-coronel do Exército Mauro Cid – ele está preso desde 3 de maio por suspeitas de participar de esquema de fraude de cartões de vacinação.

“Não foi Jair Bolsonaro ou Mauro Cid que pediu para eu comprar o relógio. Foi uma decisão minha, assumo a responsabilidade. E a origem do dinheiro usado na compra é lícita”, disse o advogado do ex-presidente. Frederick Wassef foi um dos alvos da Operação Lucas 12:2, deflagrada pela PF na última sexta (11) para apurar tentativas de vender presentes recebidos por integrantes do governo Bolsonaro durante viagens oficiais. Além dele, houve o cumprimento de mandados de busca e apreensão contra outras duas pessoas: o general da reserva do Exército Mauro Lorena Cid (pai de Mauro Cid, ), o tenente Osmar Crivelatti, também ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Wassef usa como argumento a tese citada pela família Bolsonaro desde o fim de semana: os presentes recebidos pelo então presidente durante seu governo são de cunho “personalíssimo”, por isso não haveria crime. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ressaltou que a possível recompra das peças mostra a boa-fé do ex-presidente. Nessa terça, o advogado de Bolsonaro foi na mesma linha, dizendo que fez “um favor à pátria” ao comprar o Rolex e devolvê-lo para o patrimônio da União. Eles usam como base a portaria 59, de novembro de 2018, assinada pelo então governo Michel Temer (MDB), que descreve joias como itens de natureza personalíssima. No entanto, desde 2016 uma resolução do TCU classifica medalhas, bonés, camisetas, gravata, chinelo e perfumes como exemplos nessa categoria, mas não menciona itens de luxo como joias e relógios.

Valor Econômico