Zema se isola ao jogar Sul e Sudeste contra Nordeste

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Foto: Fátima Meira/Estadão Conteúdo

Ao menos dois ministros do governo Lula, os governadores nordestinos e parlamentares de esquerda criticaram o governador de MG, Romeu Zema (Novo), após ele afirmar que governadores do Sul e do Sudeste criaram um consórcio para se opor aos estados do Nordeste. Até a noite de ontem, somente o governador do RS, Eduardo Leite (PSDB), e o Novo, partido de Zema, saíram em defesa do mineiro.

Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo publicada no sábado (5), Zema disse que os governadores do estados do Sul e do Sudeste montaram um consórcio para se opor politicamente aos estados do Norte e do Nordeste.

O grupo se chama Cossud (Consórcio Sul-Sudeste) e é presidido pelo governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD).

Na entrevista, Zema disse que o principal objetivo é se opor aos estados do Norte e do Nordeste no Congresso Nacional. Segundo ele, políticas que beneficiam esses estados prejudicam os membros do Cossud.

Outras regiões do Brasil, com estados muito menores em termos de economia e população se unem e conseguem votar e aprovar uma série de projetos em Brasília. E nós, que representamos 56% dos brasileiros, mas que sempre ficamos cada um por si, olhando só o seu quintal, perdemos. Ficou claro nessa reforma tributária que já começamos a mostrar nosso peso.
Romeu Zema, governador de Minas Gerais

Panos quentes. Diante da enxurrada de críticas, Zema veio a público na noite de domingo (6) para dizer que a criação do consórcio “jamais será pra diminuir outras regiões”.

 

O Consórcio Nordeste, que reúne os governadores da região, disse em nota que a fala de Zema insinua “um movimento de tensionamento com o Norte e o Nordeste”. A nota é assinada pelo governador da Paraíba, João Azevedo (PSB), que preside o grupo.

Negando qualquer tipo de lampejo separatista, o Consórcio Nordeste imediatamente anuncia em seu slogan que é uma expressão de “O Brasil que cresce unido”. Enquanto Norte e Nordeste apostam no fortalecimento do projeto de um Brasil democrático, inclusivo e, portanto, de união e reconstrução, a referida entrevista parece aprofundar a lógica de um país subalterno, dividido e desigual.
Nota do Consórcio Nordeste

O governador do Piauí, Rafael Fonteles (PT-PI), chamou Zema de “maior inimigo da federação” em seu perfil no Twitter.

 

O ministro da Justiça, Flávio Dino, disse que a fala de Zema atenta contra a Constituição e que “traidor da Constituição é traidor da pátria”. “Absurdo que a extrema-direita esteja fomentando divisões regionais.”

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou que o tamanho da população não pode ser o único critério para medir a importância política de cada região, e que, sem a Amazônia, “não tem como o Brasil sequer ter vida”.

Sem a Amazônia não tem como ter agricultura, não tem como ter indústria, não tem como o Brasil sequer ter vida, no Sul, no Sudeste, no Centro-Oeste, porque a ciência diz que seria um deserto como o do Atacama ou o Deserto do Saara. […] Quem mede o nosso peso pela nossa quantidade precisa entender um pouco mais de qualidade.
Marina Silva, ministra do Meio Ambiente

O deputado federal e ex-governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB-MG), também criticou Zema. Em nota, ele disse que a defesa de MG não pode ser feita “estabelecendo alvos ou discriminando regiões”.

Infelizmente, o governador Zema, talvez por não ter se expressado da forma adequada, acabou por criar mais problemas que as soluções que busca. Sempre precisamos e muitas vezes contamos com alianças com outras regiões, em especial o Nordeste brasileiro. Minas nunca foi antagônico às regiões mais pobres do país, até porque fazemos parte delas, muito menos imaginou liderar esse antagonismo.
Aécio Neves, deputado federal

O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB-ES), integrante do Cossud, também criticou Zema. No Twitter, disse que a entrevista do governador de MG reflete apenas “sua opinião pessoal”.

 

Até mesmo o bolsonarista Gilson Machado (PL-PE), ministro do Turismo do governo de Jair Bolsonaro (PL), foi ao Twitter criticar Zema. “Repudio veementemente qualquer fala que sequer ventile a separação de nosso país”, disse. “Queria Dubai ter as riquezas que o Nordeste tem.”

 

Machado foi apoiado por Fabio Wajngarten, chefe da Secom (Secretaria de Comunicação Social) de Bolsonaro e hoje advogado do ex-presidente. “Parabéns, Gilson. O Brasil é nordestino”, disse ele.

Até a noite de ontem (6), somente Eduardo Leite, entre os governadores que integram o Cossud, havia saído em defesa de Zema.

Em vídeo enviado ao UOL e depois divulgado em seu Twitter, o governador gaúcho disse que o Cossud não pretende fazer oposição ao Norte e ao Nordeste, como disse Zema.

A gente nunca achou até hoje que os estados do Norte e do Nordeste haviam se unido contra os demais estados do país. Pelo contrário, a união desses estados em torno da pauta que é de interesse comum deles serviu de inspiração para que a gente possa, finalmente, fazer o mesmo. Não tem nada a ver com frente de estados contra estados ou região contra região. Trata-se de nós nos unirmos em torno do que é pauta comum e importante para os estados do Sul e do Sudeste.
Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul.

Eduardo Ribeiro, presidente do Novo, partido de Zema, disse à Folha de S.Paulo que a fala de Zema foi descontextualizada. “A partir de uma manchete inverídica escala para um fato desses de maneira absolutamente desproporcional”, afirmou Ribeiro.

 

Uol