600 golpistas pró-Trump se declaram culpados

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Enquanto o Supremo Tribunal Federal condenou nesta quinta (14) o primeiro réu pelos atos golpistas de 8 de janeiro deste ano, os processos nos Estados Unidos contra os envolvidos na invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021 continuam e devem se estender por meses e talvez anos, dizem analistas.

Na quarta-feira (13), a Justiça americana condenou a dois anos e meio de prisão uma mulher que tinha invadido o Congresso; ela tinha dito antes, em uma rede social, não ter medo de ser condenada porque a “verdade” viria à tona, comprovando sua suposta inocência.

Também na quarta-feira as autoridades condenaram um homem a mais de seis anos de prisão. Na invasão, ele arremessou o mastro de uma bandeira na cabeça de um policial. Nas redes sociais, esse homem tinha publicado uma mensagem antes da invasão, declarando suas intenções golpistas.

Esses são apenas dois exemplos em um fluxo ininterrupto de avanços nas investigações —as mais extensas da história do FBI, que trata de crimes federais e de contraterrorismo.

As cenas daquele 6 de janeiro estão entre as mais fortes da memória recente nos Estados Unidos. Os jornais locais noticiam, dia após dias, novas prisões, julgamentos e condenações —um forte lembrete àqueles que insistem na mentira de que as eleições de 2020 foram fraudadas pelo democrata Joe Biden.

Segundo dados recentes do Departamento de Justiça dos EUA, cerca de 1.100 pessoas foram detidas e acusadas de crimes como atacar um membro das forças de segurança, invadir uma instituição federal e destruir propriedade do governo. Dessas, 632 se declararam culpadas.

A Justiça já emitiu em torno de 600 sentenças, condenando 366 à prisão. Isso sem contar as centenas de pessoas que ainda seguem sob investigação das autoridades.

A maior das penas até agora foi de 22 anos de cárcere, imposta a Enrique Tarrio, um dos líderes do grupo extremista de direita Proud Boys (garotos orgulhosos), envolvido na invasão do Capitólio. Tarrio é tratado como um dos mentores da conspiração e da insurreição.

Há um projeto claro de demonstrar como o poder público vai reagir, no futuro, caso outras turbas decidam se revoltar contra uma eleição legítima. A mensagem é importante no contexto atual, em que a figura de Donald Trump segue lançando sombras sobre o pleito presidencial do ano que vem.

O republicano passou semanas insistindo em que as eleições de 2020 tinham sido fraudadas. Mais de 140 policiais foram agredidos no 6 de Janeiro. Ao menos cinco pessoas morreram durante a invasão ou em consequência dela. A estimativa é de que os revoltosos causaram um prejuízo equivalente a mais de R$ 13 milhões.

Nesse meio-tempo, historiadores trabalham para preservar a memória daquele evento radical. O Museu Nacional de História Americana, um dos principais do país, está coletando artefatos relacionados aos ataques de 6 de janeiro. Entre eles, pôsteres, bandeiras, equipamento policial e fotografias. Museus fizeram uma campanha parecida nos primeiros meses da pandemia da Covid, reunindo objetos que contassem a história daquela crise.

Folha de SP