Bolsonaro diz que seu golpismo era só papo
Foto: Alan Santos/PR/Divulgação
— Eu posso discutir qualquer coisa, posso pensar qualquer coisa, mas se não botar em prática não tem problema.
A frase acima foi dita a mim no fim da tarde de ontem por Jair Bolsonaro após ser perguntado se temia o que Mauro Cid poderá contar em sua delação premiada. Mais precisamente a respeito das reuniões que ocorreram no Palácio da Alvorada entre novembro e dezembro de 2022 para supostamente tratar de um golpe de estado.
Ele já estava no leito de um quarto do hospital Vila Nova Star, onde horas antes submetera-se a dois procedimentos cirúrgicos. Sem dizer explicitamente se foram esses os temas que eram debatidos no Alvorada, Bolsonaro completou:
— As pessoas podem discutir sobre GLO, podem discutir o artigo 142, podem discutir o que for contanto que tudo esteja dentro das quatro linhas da Constituição.
O artigo 142 é aquele que os bolsonaristas insistem, equivocadamente, em dizer que daria respaldo a uma intervenção militar em caso de conflito entre os Três Poderes. GLO é o dispositivo que garante ao presidente da República o poder de convocar as Forças Armadas para atuar em casos de graves perturbação da ordem pública.
Bolsonaro evitou qualquer crítica ao seu ex-ajudante de ordens (“Ele é um bom garoto”). Objetivamente em relação a um golpe de estado, disse que “não havia a menor condição disso aí, o mundo não aceitaria, não havia armas, não havia nada”:
— Estão forçando a barra. A pessoa pode falar ‘vamos assaltar o Banco Central’. O que não pode é botar em prática.
Logo depois, a conversa telefônica foi interrompida a pedido de Michelle.
Uma das conclusões que se pode tirar dessas rápidas declarações é que Bolsonaro pode, se confrontado com uma descrição detalhada de Mauro Cid sobre o que se conversava no Alvorada naquelas reuniões, usar alguns dos argumentos acima. Em resumo, dirá que nenhum assunto ou ideia discutidos ali foram levados adiante. Esse argumento, claro, terá que ser confrontado com o que Cid revelará.