Defesa de Cid dizia que chance de delatar era “zero”

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Foto: Pedro Ladeira – 24.ago.23/Folhapress

A defesa do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), manifestou ao STF (Supremo Tribunal Federal) nesta semana ter interesse em uma delação premiada.

Para ter validade, ela precisa ser aceita e homologada pelo ministro Alexandre de Moraes após avaliação das novidades e das provas que Cid estaria disposto a oferecer em relação ao que já foi apurado nas investigações.

A proposta ocorre depois de um vaivém do advogado de Cid, Cezar Bittencourt, sobre a disposição do militar de envolver Bolsonaro no escândalo das joias.

Menos de um mês após assumir a defesa do militar, Bittencourt acumulou recuos em versões e chegou a afirmar que a possibilidade de Cid fazer uma delação era “zero”

Em 16 de agosto, em entrevista à GloboNews, o advogado Cezar Bitencourt disse que não sabia detalhes das acusações contra Cid porque havia acabado de assumir a defesa, mas destacou que o militar era um cumpridor de ordens.

“Assessor cumpre ordens do chefe. Assessor militar com muito mais razão. O civil pode até se desviar, mas o militar tem por formação essa obediência hierárquica. Então, alguém mandou, alguém determinou. Ele é só o assessor. Assessor faz o quê? Assessora, cumpre ordens”, disse.

No dia 17 de agosto, o criminalista deu entrevista à Folha com tom mais ameno. Ele afirmou que o objetivo da Polícia Federal seria chegar até Bolsonaro, não Cid, e que a chance de fechar uma delação premiada seria “zero”.

“A gente não pensa em delação, não tem nem por quê. Possibilidade zero. Vou fazer a defesa do Cid, não tem porque delatar ninguém. Eu sou contra isso.”

Ele disse ainda que o trabalho de Cid não consistia em somente cumprir ordens.

“Assessor está lá para cumprir ordens, ajudar. Mas também não deixa de ter uma certa autonomia para fazer o meio, como, onde e quando. Essas coisas, um assessor competente e preparado, como é o Cid, o Cid é muito preparado. Excelente pessoa, intelectual, cumpridor de missões. Tem cabeça, inteligência”, afirmou.

No mesmo dia, horas após a entrevista, a revista Veja publicou reportagem com uma nova versão de Bitencourt. Nela, ele disse que Cid decidira confessar a atuação na venda das joias e declarar que havia cumprido ordem de Bolsonaro.

“O Cid não nega os fatos. Ele assume que foi pegar as joias. ‘Resolve isso lá’. Ele foi resolver. ‘Vende a joia’. Ele vende a joia […] Na verdade, é confissão [e não colaboração].”

O advogado confirmou, mais tarde, a versão para a Folha e outros jornais. “Ele confessa que comprou as joias evidentemente a mando do presidente. Comprou e vendeu. ‘Resolva esse negócio e venda’, foi mais ou menos assim”, disse.

Em 18 de agosto, porém, Bitencourt deu nova versão para o jornal o Estado de S. Paulo. “Não, não tem nada a ver com joias! Isso foi erro da Vejs (sic) não se falou em joias!”, escreveu em mensagem.

Mais tarde, ele disse à GloboNews que o caso não se tratava de “joias”, mas de somente uma: um relógio da marca Rolex. E que não se trataria de uma confissão, mas “esclarecimentos” a serem feitos aos investigadores.

Bitencourt disse ainda que Cid não iria culpar Bolsonaro pelo esquema. “Tem muitas coisas que não tem nada a ver. Na realidade houve um equívoco, houve má-fé. Em primeiro lugar [é um equívoco] que o Cid vai dedurar o Bolsonaro”, afirmou.

No dia 31, Cid prestou depoimento de dez horas à PF sobre o caso das joias. No dia seguinte, Bitencourt disse que o ex-ajudante de ordens “assumiu tudo” e não incriminou Bolsonaro.

“Estão colocando palavras que não tem no Cid. Acusações ao Bolsonaro que não existem. E mais, esse problema se falou das joias, da recompra das joias, o Cid assumiu tudo”, disse o advogado, em áudio enviado à GloboNews e ao qual a Folha teve acesso.

“Não colocou Bolsonaro em nada. Não tem nenhuma acusação em corrupção, envolvimento, suspeita de Bolsonaro. A defesa não tá jogando Cid contra o Bolsonaro”, completou.

Nesta quarta (6), Moraes recebeu em seu gabinete uma proposta de delação premiada de Cid. A audiência em que foi relatada a vontade do militar contou com a presença do próprio militar e de Bittencourt.

De acordo com o blog da jornalista Andréia Sadi no G1, a PF aceita fechar o acordo —o tenente-coronel prestou depoimentos ao órgão nos últimos 20 dias. A proposta também deverá ser avaliada pela PGR (Procuradoria-Geral da República), e caberá a Moraes decidir sobre eventual homologação.

Folha