Esposa de condenado pelo STF pediu para ele parar
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Morador de Apucarana, no interior do Paraná, Matheus Lima de Carvalho Lázaro, de 24 anos, foi sentenciado a 17 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), nesta quinta-feira, por participação nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro. Durante o julgamento, foram exibidos áudios trocados no dia dos ataques entre o rapaz e a esposa grávida, deixada por ele na cidade natal.
Matheus viajou de Apucarana para Brasília de ônibus e foi até à Esplanada dos Ministérios com dois amigos que se encontravam acampados no Quartel-Geral da capital federal. Já na Praça dos Três Poderes, enquanto extremistas invadiam o Palácio do Planalto, o Congresso e o prédio do STF, ele começou a enviar mensagens à mulher, que acabaram anexadas ao processo.
“‘Mô’, aqui na televisão está falando que as polícias já estão tudo prontas, já. Daqui a pouco elas vão aparecer aí”, disse aflita, às 16h05, ao companheiro. Um minuto depois, ela retomou o contato: “Isso não pode porque já é vandalismo”. E reforçou na sequência: “Aqui está mostrando na televisão as pessoas já quebrando as coisas. Isso não pode porque isso é vandalismo. Não pode entrar quebrando, tipo… É, destruindo até o teto. Aqui na televisão está mostrando. Não pode isso”.
Meia hora depois, às 16h36, Matheus enviou um vídeo à esposa no qual aparece na Praça dos Três Poderes. Em seguida, ele argumentou: “Que que não pode? É para quebrar, para dar desordem, para o Exército vir, ‘mor’. ‘Mô’, acabou pacificamente, não existe isso”. O rapaz prosseguiu: “Tem quebrar tudo, para ter reforma, para ter guerra, amor. Guerra! Para o Exército entrar. Entendeu? A gente tem que fazer isso aí para o Exército entrar, e todo mundo ficar tranquilo. O Exército tem que entrar para dentro”.
Matheus ainda pediu à esposa que não acreditasse nas informações veiculadas pela imprensa. “Não vai em mídia de televisão, não, que eles estão totalmente errados. É vândalo, é vândalo mesmo. Acabou o pacífico”. Sete minutos mais tarde, às 16h44, o rapaz enviou um “está tranquilo”, reclamou da internet ruim e encaminhou uma selfie na Praça dos Três Poderes.
Os diálogos entre o casal constam em um laudo da Polícia Civil do Distrito Federal, mas não são citados na denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Matheus. Ainda assim, o material foi anexado ao processo e citado durante o voto do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no Supremo.
Ao prestar depoimento, Matheus afirmou que registrou a movimentação de manifestantes no próprio celular, compartilhando imagens nas redes sociais, mas negou ter tomado partido direto na depredação. Os áudios enviados à esposa foram usados por Moraes para reforçar que, ao contrário do sustentava, o rapaz tinha, sim, intenções golpistas.
Lázaro deixou a Praça dos Três Poderes após a chegada das autoridades, mas foi preso no entorno do Estádio Mané Garrincha — antes, chegou a trocar de blusa numa tentativa de não ser reconhecido. Com ele, de acordo com a polícia, havia uma faca, uma jaqueta militar e uma camiseta da seleção brasileira.
Além de Matheus, outros dois réus foram condenados nesta quinta-feira: Aécio Lúcio Costa Pereira, também a 17 anos de prisão; e Thiago de Assis Mathar, a 14 anos de prisão. Há ainda um quarto acusado sentado no banco dos réus neste primeiro julgamento acerca do 8 de janeiro, mas o caso de Moacir José dos Santos só será apreciado pelos magistrados na próxima semana.